O primeiro zoo de São Paulo

Imagem histórica de elefantes banhando-se no lago da Aclimação, reproduzida do livro “Jardim da Aclimação e o Zoológico”. Livro conta história do criador do Parque da Aclimação, o médico, agricultor e político Carlos Botelho, que idealizou o local em 1892.  Reprodução. 

O Parque da Aclimação tinha camelos, elefantes e até uma onça-pintada

O bairro da Aclimação, na região mais central da cidade de São Paulo, é de classe média e tem hoje uma presença marcante da cultura sul-coreana. A tradição asiática é vista em restaurantes, lojas, igrejas e comércios tipicamente orientais, promovendo uma grande diversidade cultural e criando um ambiente único na cidade – e fica pertinho da Liberdade, o bairro oriental.

A Aclimação surgiu diretamente ligada ao Parque da Aclimação, uma área verde incrustada em meio a altos edifícios e uns poucos sobrados residenciais, sobreviventes de outros tempos.

Tudo começou em 1892, quando um médico piracicabano, chamado Carlos José Botelho, após comprar terras na região, decidiu criar um imenso jardim, chamado de Jardim D’Acclimatation de Paris, inspirado no parque francês de mesmo nome que ele havia conhecido quando estudou na França.

Dr. Carlos Botelho

No local havia espaço para exposição de gado leiteiro holandês, fato que atraiu o interesse de grandes pecuaristas brasileiros. Dizem os moradores mais antigos que os visitantes podiam até tomar leite de vaca tirado na hora e comprar laticínios naquela que foi a primeira leiteria da cidade!

O acesso ao parque se fazia por dois portões de ferro fundido. Ao entrar pelo portão principal, o visitante logo observava uma larga e bem cuidada alameda sombreada por árvores frondosas, que circundavam o lago em toda sua extensão, por uma distância de dois quilômetros.

Estacionamento dos visitantes do Jardim da Aclimação. Ao fundo, do lado direito, um descampado…
Foi nesse descampado, por onde passavam córregos, é que foi criado um lago.

Esse lago  foi formado a partir do represamento de córregos da região, no qual haviam canoas para passeios.

Alameda que circundava o recém-criado lago, onde se podia passear de canoa.
As colunas que sustentavam os portões de ferro da entrada principal ainda existem, mas perderam as esculturas em relevo. A bilheteria que se vê na foto foi derrubada e a área hoje faz parte do terreno ocupado por uma biblioteca pública.

A alameda dividia o jardim em duas partes: na maior ficavam as diversões (como o salão de baile, o ringue de patinação e as barracas de tiro ao alvo), o bosque com o lago e o estábulo; na outra estava instalado o zoológico.

Esse local, aliás, era uma atração à parte.

O primeiro zoo da cidade contava com estrelas do reino animal, como o camelo Gzar e o urso-polar Maurício – cuja jaula era resfriada com barras de gelo que vinham da fábrica da cervejaria Antárctica, que ficava na Água Branca –  e vários outros animais, como hienas, cobras e até uma onça pintada.

Uma das diversões mais populares no parque era dar uma volta no camelo.

Vale um registro: em 1920, uma sucuri com cerca de 5 metros de comprimento escapou do espaço em que ficava exposta e dez homens participaram da operação de captura do réptil.

Registro do momento da captura da sucuri fugitiva.

As pessoas podiam ainda passear de charrete puxada por uma lhama e as crianças adoravam dar voltas ao redor do lago numa carrocinha puxada por um burrico.

Naquela época, havia só dois parques em toda a cidade, o da Luz e o da Aclimação. O da Aclimação ficava longe do centro, por isso era preciso inovar constantemente para atrair público.

Por isso, quando o zoo foi inaugurado, uma maciça campanha de divulgação anunciou a novidade. Maciça para a época, claro… Com anúncios nos jornais e nos bondes.


Anúncio direcionado à comunidade italiana em São Paulo: peixe elétrico e urso polar faziam sucesso no parque

O zoo  também tinha como objetivo a criação e reprodução de animais de várias espécies. E as atrações foram se sucedendo, com a abertura de um aquário anexo ao zoo. O parque ainda abrigava um posto botânico e era sede da Sociedade Hípica Paulista.

Com o afluxo de pessoas para a região, iniciou-se a urbanização do bairro e por volta de 1916 várias ruas começaram a ser abertas, recebendo cada uma o nome de pedras preciosas, como Turmalina, Topázio, Diamante, Ágata, Safira, Esmeralda, Rubi, e outras receberam nomes dos planetas do sistema solar como Júpiter, Urano, Saturno.

Casarão na rua Turmalina. 

Em 1939, o Jardim da Aclimação, cuja área era de 182 mil metros quadrados, foi comprado pelo então prefeito Prestes Maia, pois os filhos de Botelho passavam por dificuldades financeiras e não conseguiam mais manter o parque. 

Na década de 1950, a área ganhou uma biblioteca, uma Concha Acústica, um playground e um campo de futebol. O bairro foi se desenvolvendo ao redor do parque e se tornando eminentemente residencial.

Vista do lago, com a muralha de prédios no horizonte.

A partir de 1970, a expansão imobiliária fez surgir muitos edifícios, marcando a verticalização do bairro, o aumento da população e o consequente crescimento do comércio.

No decorrer da década de 1980, a associação dos moradores do bairro e dos defensores do parque, juntamente com entidades ecológicas, mobilizaram-se e conseguiram o tombamento do Parque da Aclimação, feito pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico.

Atualmente, o parque recebe cerca de 7.000 visitantes aos finais de semana.

Curiosidades

  • O Parque da Aclimação tem hoje 112 mil m² de área verde, algo como menos de 70% de sua área original;
  • Foram registradas 85 espécies de fauna, 88 espécies de flora das quais copaíba, pau-brasil e pinheiro-do-paraná estão ameaçadas, e 65 espécies de aves;
  • Três esculturas de Arcângelo Ianelli (1922 – 2009) – pintor, escultor, ilustrador e desenhista brasileiro, natural da cidade de São Paulo – estão distribuídas pelo parque em meio ao verde: “Dança Branca”, O Retorno” e “Forma Corrompida”;
  • O criador do parque, o médico e pesquisador Carlos Botelho, foi secretário da Agricultura de São Paulo e, entre suas grandes realizações, foi o responsável pelo início da imigração japonesa no Brasil. O primeiro navio, com 781 japoneses, chegou a Santos em 1908. Vieram trabalhar na agricultura de café e o contrato de imigração entre os dois países foi firmado entre o Sr. Ryu Mizuno, Diretor Presidente da Cia. de Imigração Kôkoku do Japão, e pelo Dr. Carlos Botelho.

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