O título deste post parece confuso, mas é que tudo está interligado: Ferdinando (Li’l Abner, em inglês), personagem de quadrinhos; Liberace, famoso pianista e showman americano, e Michael Douglas, o astro e diretor de cinema.
O que desencadeou esse meu processo cerebral foi a notícia de que a televisão parece hoje muito mais criativa e dinâmica do que o cinema (ao menos nos Estados Unidos). Enquanto este último parece viver basicamente de refilmagens e continuações (só neste ano teremos a continuação de 4 ou 5 grandes sucessos, como Homem de Ferro 3, Se Beber não Case 3 ou Velozes e Furiosos 6…), a TV dá um show com suas produções, a exemplo de “Boardwalk Empire” ou “Game of Thrones”. E por isso atrai cada vez mais os grandes astros do cinema, como Al Pacino no recente “Phil Spector” e agora, Michael Douglas e Matt Damon em “Behind the Candelabra”, produção da HBO.
Essa última produção é o mote deste post em três partes. O tema desse filme para TV é Liberace, um astro do show-business americano nos anos 1950 e 1960, principalmente, e do qual nunca tinha ouvido falar até ler os quadrinhos do Ferdinando, do desenhista americano Al Capp.
O hilário e ingênuo Ferdinando é um “hillbilly” (ou seja, um caipira) que vive no fictício lugarejo de Brejo Seco, nas montanhas do Kentucky. Suas histórias são caracterizadas por situações absurdas.
Ferdinando apareceu pela primeira vez nos jornais americanos em 20 de agosto de 1934, em forma de tiras diárias, e logo se transformou num sucesso absoluto, que se estendeu por cerca de 30 anos consecutivos. As histórias mostravam as desventuras de Ferdinando ao lado da mãe e do pai, Chulipa e Lúcifer Buscapé. Sua namorada era Violeta Scragg que, depois de 18 anos de investidas amorosas conseguiu “fisgar” o arisco amado no Dia de Maria Cebola ( folclórico feriado local onde toda solteirona perseguia rapazes igualmente solteiros), tornando-se a sra. Buscapé.
Ferdinando fez muito sucesso no mundo todo, gerando diversas imitações e até um seriado de Tv bastante popular, “Família Buscapé”, que nunca reconheceu a influência do caipira dos quadrinhos em sua criação.
As histórias de Ferdinando tiveram ainda mais sucesso quando começaram a satirizar personagens conhecidas. Por suas páginas apareceram paródias de Elvis Presley, dos Beatles, Frank Sinatra… E uma delas, que me lembro de ter lido na edição brasileira, foi de Liberace. Al Capp conta que, quando fez a paródia de Sinatra, todo mundo ficou preocupado com a reação do superstar, e todos caíram da cadeira quanto Sinatra telefonou dizendo o quanto havia rido da brincadeira. Desde então, toda vez que encontrava Al Capp num restaurante, Sinatra fazia questão de enviar-lhe uma garrafa de champanhe. Isso animou o desenhista a satirizar Liberace, que era muito famoso e seu programa de TV era líder de audiência… Mas os advogados do pianista ameçaram Al Capp com um processo.
Al Capp foi em frente e mudou um pouco sua ideia inicial. De “Liverachy”, passou a chamá-lo de “Loverboynik”, um pianista louro da TV. E Capp insistia que seu personagem não era Liberace, “porque ele sabia tocar piano decentemente e raramente usava cuecas pretas de lacinhos…”
Não me lembro como Loverboynik foi chamado aqui, mas o fato é que eu não entendia boa parte das piadas, especialmente as que mostravam o personagem sempre ao lado de garotões, como no quadrinho acima da foto. Só muitos anos depois, entendendo quem foi Liberace, pude apreciar toda a saborosa sátira de Al Capp e também em um desenho animado do Pernalonga, onde o Patolino é pianista e duela com… Liberace.
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