8.set.2017 – Navio encalha em Miami Beach, na Flórida, com a secagem das águas do mar causada pela chegada do furacão Irma…

Quando o furacão Irma, o mais poderoso da década no Atlântico, ainda se aproximava da costa da Flórida, a ventania se intensificava, a chuva começava a cair quando, de repente, o mar começou a se retrair. Aos poucos, a água foi sendo sugada, recuando e se afastando das costas e praias. Deixou um rastro de algas, pedras, troncos, ouriços do mar e caramujos.

Barcos, que antes boiavam à beira mar, ficaram afundados na areia. Essas cenas foram vistas várias vezes à medida que o furacão avançava para os EUA – e imagens pipocaram durante todo o fim de semana nas redes sociais.

As primeiras foram registradas nas Bahamas e, depois, nas costas de Key West, Naples, St. Petersburg, Sarasota e Tampa, cidades no oeste da Flórida. E por que o mar recuou se o um ciclone estava se aproximando? Não seria o caso de a maré subir, provocar ondas e inundar tudo?

“Nem sempre isso acontece. Depende da força e da direção dos ventos do furacão”, explica Juan Carlos Cárdenas, meteorologista do Centro Mundial de Prognósticos do The Weather Company, empresa de previsão e tecnologia de clima e tempo.

O fenômeno deixou muita gente surpresa e causou intensa discussão nas redes sociais.

“Foi muito estranho porque tinha muito vento, mas, ao invés de ter ondas, o mar foi embora. Foi algo estranhíssimo”, contou Sandra Padrón, moradora de Naples. Ela disse que teve medo. “O mar recuou muito na manhã (de domingo). Pensei que era anúncio de algo ruim.”

O que o vento leva

Centenas de moradores aproveitaram o recuo para tirar selfies e conferir o solo do mar.

Cárdenas diz que o mesmo aconteceu nas Bahamas. “Algumas das ilhas do arquipélago são de sotavento (as que se encontram na direção na qual o vento se move) e, por isso, explica porque o mar também tenha recuado”, completa o especialista. Quando Irma provocou esse fenômeno nas costas da Flórida, ele já havia enfraquecido, chegando às categorias 3 e 4. Ele havia passado pelo Caribe na mais elevada potência, a categoria 5, provocando ventos de cerca de 298 km/h.

 

Por que então o Irma não provocou fenômeno similar nas praias de outras ilhas caribenhas?

Profundidade das águas

Cárdenas explica que, além da força e da direção do vento, um fator a ser levado em consideração é a profundidade do mar. “Antes, o Irma se moveu por zonas do Atlântico onde a profundidade do mar é muito grande. Então, o vento arrasta a água, mas, como ali é muito profundo, a água afunda e volta em direção à costa. Não há recuo”.

No entanto, o meteorologista explica que, perto da plataforma continental, a profundidade do oceano é menor. Por isso, a água não pode afundar e voltar para a costa, e o mar acaba seguindo a mesma direção do vento.

“É algo que pode acontecer no sul da região ocidental de Cuba e na costa oesta da Flórida, porque há muito espaço para o mar recuar e pouca profundidade”, argumenta.

No caso de furacões fortes, como o Irma, esse fenômeno pode produzir um efeito no qual as ondas geradas podem afetar outras áreas do Golfo do México. Mas esse recuo do mar, segundo o especialista, não é definitivo. Os mesmos ventos fortes que levaram as águas vão trazê-las de volta e, possivelmente, com mais força.

O mar foi “dragado” no oeste da Flórida e nas Bahamas, onde a profundidade do mar é menor.

O que vai, volta

O meteorologista explica que, pelo próprio movimento dos ventos do furacão, há mudanças na rota do deslocamento. É possível até que, ao trocar de direção, um furacão volte pelo caminho inverso.

“Então, quando o vento retorna ao sudoeste, o mesmo acontecerá, mas na direção oposta, é o que chamamos de inundação costeira de furacões. Ouvimos informações de que, no domingo, houve lugares no sul da Flórida onde a água subiu a 15 pés (4,5 metros)”, diz o especialista.

 

Pressão no olho do furacão

O meteorologista da BBC Clive Mills-Hicks explica que “a força dos ventos não apenas cria ondas gigantescas, como também empurra e puxa a superfície do oceano em escala regional, elevando o nível do mar em algumas áreas e, inevitavelmente, sugando ele de outras áreas, que é o que aconteceu nas Bahamas”.

Segundo Mills-Hicks, um segundo fator a ser considerado é a pressão atmosférica no centro do furacão, que, no caso do Irma, é muito baixa. “O peso do ar fazendo pressão sobre a água é reduzido, o que permite elevar o nível da água no olho do furacão. Mas, áreas adjacentes verão uma queda no seu nível à medida que a água é puxada para cima, no olho do furacão.”

O fenômeno também ocorre com a chegada de tsunamis, quando a água de uma praia é puxada para dentro do mar para alimentar a onda – causando a redução do nível do mar.

 

 

 

 

 

 

Fonte:

BBC

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