Vou reproduzir aqui o belo texto de Cristiane Segatto, dica de Cristina de Carli!
Em São Paulo, passarinho canta e gente reclama. Como melhorar esse humor.
Os sabiás de São Paulo ousam cantar. Não estão nem aí para as reclamações que circulam nas redes sociais. Paulistanos piam contra tudo. E agora também contra os passarinhos. Segundo os incomodados, a cantoria durante a madrugada atrapalha o sono. Nesta semana, a discussão esquentou.
O sabiá-laranjeira canta de madrugada e os paulistanos dizem que não conseguem dormir (Foto: Wikimedia Commons)
Os bichos seguem cantando. Não sabem que a cidade se tornou uma fábrica de implicantes compulsivos. Talvez saibam, mas não perdem tempo com eles. Se gastarem energia com bate-bico morrem de fome ou na bocarra do gato vira-lata. No território dos passarinhos, aquele que usurpamos descaradamente, vale um ditado bem conhecido entre nós: “os incomodados que se mudem”. Sábios sabiás. Deveríamos aprender com eles. Deveríamos ouvi-los mais.
Ouço um agora mesmo, enquanto escrevo este texto. Mais de um. Não só sabiás. Outras espécies aqui e ali. Volta e meia um beija-flor me surpreende na sacada do meu apartamento, atraído pelas plantas. Moram nos míseros e últimos nacos de verde que nos cercam. Aqueles raros quintais que ainda não cederam espaço a monstruosidades de 20 andares com cinco vagas de garagem por apartamento.
A presença dos passarinhos é um privilégio. Eles cantam e eu caio no sono. Eles me incomodam tanto quanto uma chuvinha fina batendo na janela. Incômodo zero. Desconfio que a maioria das pessoas considera que o som das aves seja relaxante – e não perturbador. É o seu caso? Conte pra gente.
Uma experiência interessante aconteceu recentemente no Forth Valley Royal Hospital, na Escócia. Para ajudar pacientes com extrema dificuldade de dormir, o artista Mark Vernon criou uma trilha sonora especial para a estação de rádio interna. O objetivo era fazer adormecer o mais desperto dos insones. Para isso, Vernon pesquisou uma série de sons suaves e fez uma mistura poderosa. Ouvi um trecho e, quando percebi, estava bocejando em frente ao computador. Precisei levantar, dar uma volta, agarrar uma xícara de café. Quase adormeci com a mistura de piano, água corrente, marreco e… pássaros. Muitos pássaros.
Parece ser o caso do sabiá-laranjeira que, a partir do final de inverno, se reproduz. Os machos andam cantando à beça em São Paulo. Cantam para demonstrar às fêmeas que são um bom partido. O canto vigoroso é entendido como uma demonstração da capacidade de alimentar os filhotes e de defender o território nas disputas com outros machos.
Segundo um especialista consultado pela Folha de S.Paulo, é de madrugada que o macho ensina a melodia aos filhotes. Ele fica a até cinco metros de distância do ninho. Se fizesse isso durante o dia, os filhotes ficariam na mira dos predadores.
São boas as razões do sabiá. O levante contra ele pode ser fruto de rabugice crônica. Sabe aquele tipo de pessoa que num dia reclama da chuva, no outro do sol, durante a semana pragueja contra o barulho da capital e, num feriadão prolongado, diz que não suporta o tédio da cidade vazia?
Quando o mau humor é constante, dura mais de dois anos e vem acompanhado de outros sintomas (falta ou excesso de apetite; insônia ou sono excessivo; fadiga; baixa autoestima; dificuldade de concentração), a pessoa pode estar sofrendo de distimia – um tipo de depressão com sintomas menos graves. Mau humor (crônico ou circunstancial) é agravado pelas noites mal dormidas. Ou é provocado por elas.
Dormir bem é fundamental para a manutenção do equilíbrio geral do organismo, para a consolidação da memória e do aprendizado, entre outras funções. Algumas dicas para melhorar a qualidade do sono:
• Praticar atividade física
• Ter horários regulares para dormir e despertar
• Dormir num ambiente limpo, escuro, confortável, sem ruído de TV
• Não consumir álcool, café e refrigerantes perto do horário de dormir
• Não usar medicamentos para dormir sem orientação médica
• Se tiver dormido pouco nas noites anteriores, evite dormir de dia
• Jantar com moderação e em horário regular
• Não levar problemas para a cama
• Realizar atividades repousantes e relaxantes preparatórias para o sono
Quem sabe assim o sabiá deixe de ser um problema.
(colunas da Cristiane Segatto: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/cristiane-segatto/)
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