Cointelpro: A guerra secreta do FBI

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Neste momento em que o mundo vive novamente uma divisão profunda, provocada por movimentos políticos e ideológicos contrários, acho que vale a gente relembrar uma das ocasiões em que isso aconteceu.

Enfatizando que ainda não havia o recurso da internet, redes sociais e Inteligência Artificial como ferramentas da amplificação dessa divisão.

COINTELPRO (Counter Intelligence Program) foi um programa de espionagem interna dos Estados Unidos, conduzido pelo FBI entre 1956 e 1971. O objetivo era vigiar, infiltrar, desacreditar e eliminar grupos e indivíduos que o FBI considerava subversivos. 

O COINTELPRO foi alvo de investigações do Senado e de vários processos judiciais. As conclusões foram que as operações do FBI ultrapassaram os limites legais e violaram a liberdade de expressão. 

Concebido no apogeu da Guerra Fria, um dos documentos apresentados durante a investigação do Senado, assinado pelo próprio diretor do FBI, J. Edgar Hoover, em 25 de agosto de 1967, determinava o objetivo da nova fase do programa: “expor, infiltrar, desorganizar, manipular, desacreditar, neutralizar e, se necessário, eliminar as organizações e grupos nacionalistas negros baseados no ódio, suas lideranças, porta-vozes, membros e simpatizantes.”

J. Edgar Hoover – há um filme muito bom, “J. Edgar”, com Leonardo Di Caprio no papel e com direção de Clint Eastwood, que conta a história real de John Edgar Hoover.

Era uma declaração de guerra interna sem qualquer autorização do parlamento e sem reconhecimento governamental.

O vale-tudo incluía fabricação de provas, falsificação de crimes, provocação de conflitos internos, destruição de recursos materiais, guerra midiática, controle do sistema judicial e assassinatos a sangue frio.

Hoover ficou conhecido por implementar modernizações na tecnologia policial, como o uso de impressão digital e laboratórios forenses, mas também se destacou como um homem de pensamentos extremistas.

Em 1956, Hoover já estava frustrado com as decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos, que limitavam cada vez mais a capacidade de o Departamento de Justiça processar as pessoas por suas opiniões políticas, especialmente quem era comunista. Obstinado em derrubar o comunismo, ele deturpou a Lei de Controle Comunista de 1954 e a interpretou como uma espécie de aval para criar uma campanha secreta contra o Partido Comunista dos EUA.

Ao criar o programa secreto COINTELPRO, ele pretendia desacreditar e neutralizar o partido, pois o enxergava como um perigo para a segurança nacional. Mas suas intenções iam mais além.

Sob a alegação de que queria “proteger a segurança nacional, prevenir a violência e manter a ordem social e política existente”, o FBI atuou em projetos secretos ilegais ao vigiar e destruir todos os tipos de organizações de oposição e se infiltrar neles, como fez com o Partido Socialista dos Trabalhadores, o movimentos antirracismo, ativistas do movimento pelos direitos civis, movimentos feministas, movimentos antiguerra, organizações ambientalistas e dos direitos dos animais, movimentos indígenas, movimentos de independência e qualquer outro grupo que flertasse com o que Hoover considerava a esquerda.

Usando a mídia, que na época se resumia ao rádio, TV e imprensa, o COINTELPRO fabricou fake news para difamar líderes de grupos e seus associados, expondo documentos e relatórios falsos para construir uma má reputação deles e humilhá-los publicamente.

Hoover e outros superintendentes do programa articularam com juízes e delegados para fazer prisões injustas, assim como para financiar, armar e controlar organizações paramilitares para atacar e assassinar seus alvos. Em 1971, por exemplo, o FBI contratou um grupo de extrema direita formado por ex-membros da organização paramilitar anticomunista Minutemen e os transformou na Organização do Exército Secreto, que tinha como alvo grupos, líderes e ativistas do Movimento Antiguerra.

Em 1969, o FBI começou uma verdadeira “caça às bruxas” aos movimentos negros por considerá-los uma “ameaça radical infestada de comunistas”. Nesse mesmo ano, o ativista afro-americano Fred Hampton, presidente dos Panteras Negras, foi assassinado a tiros junto a Mark Clark durante uma invasão à sua casa pelos policiais de Chicago e agentes do FBI. Como resultado da influência de Hoover e suas artimanhas, um júri declarou que as mortes de Clark e Hampton foram “homicídios justificáveis”.

Fred Hampton

Foi somente em 1971 que a maré começou a virar. Em 8 de março de 1971, Joe Frazier e Muhammad Ali disputavam, no Madison Square Garden, a primeira de suas lendárias lutas do século.

Frazier era o campeão mundial dos pesos pesados. Seu desafiante, invicto, havia sido exonerado do cinturão máximo da categoria por ter se recusado a combater na Guerra do Vietnã. A maioria dos torcedores brancos aspirava pela derrota do homem que “voava como uma borboleta e picava como uma abelha”, como ele próprio havia se descrito. Ali era o grande símbolo de resistência à supremacia racial em uma nação ainda marcada pela segregação, sendo perseguido pelo programa secreto devido ao seu envolvimento com movimentos antiguerra.

Nesse mesmo horário, com todos ligados na TV pay-per-view e no rádio, alguns ativistas do grupo secreto Comissão de Cidadãos invadiram o escritório de dois agentes do FBI na Pensilvânia, e roubaram mais de mil documentos ultrassecretos sobre o COINTELPRO . Eles revelaram anos de escuta telefônica, infiltração e manipulação da mídia para suprimir a dissidência, assim como assassinatos e a criação de um gabinete de fake news.

No dia seguinte, todos os jornais se recusaram a publicar uma matéria revelando anos de atividades criminosas do FBI. Somente o The Washington Post publicou toda a sujeira.

Porém, não demorou muito para que os veículos de imprensa fossem cedendo e revelando a história. O programa foi oficialmente interrompido, mas ainda seria conduzido às escondidas até 1975, quando a investigação do Senado obrigou o FBI a enterrar de vez essa atividade.

Divulgar as ações do COINTELPRO é fundamental para entender e prevenir abusos de poder por parte de órgãos governamentais. Com esse tipo de divulgação, podemos:

  1. Proteger direitos civis – a repressão estatal pode atingir aqueles que desafiam o status quo.
  2. Evitar que se repita no futuro – ao conhecer a história do COINTELPRO, a sociedade pode exigir transparência e fiscalização sobre as atividades semelhantes.
  3. Desconstruir narrativas manipuladas – muitas figuras históricas foram criminalizadas pelo governo na época, e suas lutas foram distorcidas na mídia.
  4. Fortalecer a democracia – democracias saudáveis exigem liberdade de expressão e organização política. Expor operações como o COINTELPRO evidencia a necessidade de limites ao poder estatal e do respeito às liberdades individuais.

Fontes:

Wikipedia

brasildefato.com.br

megacurioso.com.br

artsemerson.org

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