Vale ler e meditar, SEM PRESSA. Desconheço o autor.
“Já tem mais de 20 anos que ingressei na Volvo, empresa sueca bem conhecida. Trabalhar com eles é uma convivência muito interessante. Qualquer projeto aqui demora dois anos para se concretizar, mesmo que a ideia seja brilhante e simples. É uma regra.
Os processos globalizados causam a nós (brasileiros, portugueses, argentinos, colombianos, peruanos, venezuelanos, mexicanos, australianos, asiáticos, etc…) uma ansiedade generalizada na busca de resultados imediatos. Consequentemente, o nosso sentido de urgência não surte efeito dentro dos prazos lentos dos suecos.
Os suecos debatem, debatem, realizam “n” reuniões, ponderações, etc… E trabalham! Com um esquema bem mais “slowdown“. O melhor é constatar que, no fim, isto acaba sempre dando resultados no tempo deles (suecos) já que conjugando a necessidade amadurecida com a tecnologia apropriada, é muito pouco o que se perde aqui na Suécia.
1. A Suécia é do tamanho do Estado de São Paulo (Brasil).
2. A Suécia tem apenas nove milhões de habitantes.
3. A sua maior cidade, Estocolmo, tem apenas 800.000 habitantes (compare-se com Paris, Londres, Berlim, Madrid, mesmo Lisboa, ou ainda com a cidade do Rio de Janeiro, com 7 milhões).
4. Empresas de capital sueco: Volvo, Skandia, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare , etc. Nada mal, né? Para se ter uma ideia da sua importância, basta mencionar que a Volvo fabrica os motores de propulsão para os foguetes da NASA.
Vou contar uma pequena história, para terem uma ideia melhor:
A primeira vez que fui para a Suécia, em 1990, um dos meus colegas suecos me apanhava no hotel todas as manhãs. Já era setembro, com algum frio e neve. Chegávamos cedo à Volvo e ele estacionava o carro longe da porta de entrada (são 2000 empregados que vão de carro para a empresa).
No primeiro dia não fiz qualquer comentário, nem tampouco no segundo ou no terceiro. Num dos dias seguintes, já com um pouco mais de confiança, uma manhã perguntei:
“Vocês têm lugar fixo para estacionar? Chegamos sempre cedo e com o estacionamento quase vazio você estaciona o carro no seu extremo?” E ele me respondeu com simplicidade: “É que como chegamos cedo, temos tempo para andar, e quem chega mais tarde, já vai entrar atrasado, portanto é melhor para ele encontrar um lugar mais perto da porta. Entendeu?”
Imaginem a minha cara! Essa atitude foi o bastante para que eu revisse todos os meus conceitos anteriores.
Atualmente, há um grande movimento na Europa chamado “Slow Food”. A “Slow Food International Association”, cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede na Itália (o site na Internet é muito interessante: www.slowfood.com). O que o movimento Slow Food preconiza é que se deve comer e beber com calma, dar tempo para saborear os alimentos, desfrutar da sua preparação, em família, com amigos, sem pressa e com qualidade.
A ideia é contraposição ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida. Verdadeiramente surpreendente, este movimento de Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado “Slow Europe”, como salientou a revista Business Week numa das suas últimas edições europeias.
Na base de tudo isto está o questionamento da “pressa” e da “loucura” geradas pela globalização, pelo desejo de “ter em quantidade” (nível de vida) ao contrário do “ter em qualidade”, “Qualidade de vida” ou “Qualidade do ser”.
Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, ainda que trabalhem menos horas (35 horas por semana) são mais produtivos que os seus colegas americanos e ingleses. E os alemães, que em muitas empresas já implantaram a semana de 28,8 horas de trabalho, viram a sua produtividade aumentar uns apreciáveis 20%.
A denominada “slow attitude” está chamando atenção dos próprios americanos, escravos do “fast” (rápido) e do “do it now!” (faça já!). Portanto, essa “atitude sem pressa” não significa fazer menos nem ter menor produtividade. Significa sim, trabalhar e fazer as coisas com “mais qualidade” e “mais produtividade”, com maior perfeição, com atenção aos detalhes e com menos estresse.
Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do prazer dum belo ócio e da vida em pequenas comunidades. Do “aqui” presente e concreto, ao contrário do “mundial” indefinido e anônimo.
Significa retomar os valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver, e até da religião e da fé. SIGNIFICA UM AMBIENTE DE TRABALHO COM MENOS PRESSÃO, MAIS ALEGRE, MAIS LEVE, E, PORTANTO MAIS PRODUTIVO, ONDE OS SERES HUMANOS REALIZAM, COM PRAZER, O QUE MELHOR SABEM FAZER
É saudável refletir sobre tudo isto. Será que os antigos provérbios: “Devagar se vai ao longe” e “A pressa é inimiga da perfeição” merecem novamente a nossa atenção nestes tempos de loucura desenfreada?
Não seria útil e desejável que as empresas da nossa comunidade, cidade, estado ou país, começassem já a pensar em desenvolver programas sérios de “qualidade sem pressa” até para aumentarem a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços sem necessariamente se perder a “qualidade do ser”?
No filme “Perfume de Mulher” há uma cena inesquecível na qual o cego (interpretado por Al Pacino) convida uma jovem para dançar e ela responde: “Não posso, o meu noivo deve estar chegando”. Ao que o cego responde: “Em um momento, vive-se uma vida”, e a leva para dançar um tango. Esta cena, que dura apenas dois ou três minutos, é o melhor momento do filme.
Muitos vivem correndo atrás do tempo, mas só o alcançam quando morrem, quer seja de enfarte ou num acidente automobilístico… Por correrem para chegar a tempo. Ou existem os outros que, tão ansiosos para viverem o futuro, esquecem-se de viver o presente, que é o único tempo que realmente existe. O tempo é o mesmo para todos, ninguém tem nem mais nem menos de 24 horas por dia.
A diferença está no que cada um faz do seu tempo. Temos de saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon, “A vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro”.
Parabéns por ter conseguido ler esta mensagem até ao fim. Certamente haverá muitos que leram só metade, para “não perder tempo”.
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