O primeiro projeto de Metrô de São Paulo

Há poucos dias, publiquei um post sobre como era a cidade de São Paulo antes do monstrengo, digo, Minhocão (aqui), e que hoje é alvo de especulações sobre seu fim. Ou será demolido ou transformado em um parque linear. Seja qual for seu destino, será mais uma mudança na paisagem desta metrópole, que no passado tinha como lema “São Paulo não pode parar” e hoje está literalmente congestionada.

Uma das soluções para desafogar a cidade seria a ampliação da rede do Metrô, atualmente saturado, e que foi inaugurado em 1974. O incrível é que o primeiro projeto do nosso metropolitano é de  1926!

Confira a ótima matéria preparada por Douglas Nascimento que reproduzo abaixo. Douglas é jornalista, fotógrafo e pesquisador independente, edita o site São Paulo Antiga, e é membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

O Tramway da Cantareira:

O serviço a vapor do Trem da Cantareira era consideravelmente deficitário. Para tentar reverter esta situação, o Governo do Estado de São Paulo passou a estudar alternativas de melhorar o sistema, tornando-o atraente aos passageiros – e lucrativo. Outra problema crônico eram as reclamações constantes dos moradores da região atendida pelo ramal, que sofriam com a demora da composição, que só passava de duas em duas horas, enquanto os bairros atendidos pelos bondes tinham transporte a cada 15 minutos. No recorte do jornal Correio Paulistano, de 16 de março de 1926, o apelo pela mudança no sistema.

Correio Paulistano

Neste mesmo ano, após intensos estudos do governo, sairia o ousado e moderno projeto de eletrificação do Tramway da Cantareira.  Veja como ele seria:

A ideia do projeto consistia em substituir totalmente o vapor desde o início do serviço até seu final, em Guarulhos, eletrificando o serviço por completo. Além disso, tinha a ideia de que uma vez eletrificado, o serviço iria se conectar com os demais serviços de bonde da capital, tornando o lento transporte da zona norte paulistana mais rápido e eficiente.

A ilustração abaixo mostra um trecho que seria atendido por pelo menos duas linhas diferentes de bonde, além da linha férrea da São Paulo Railway. A linha mais ao alto seria a do Tramway da Cantareira.

O projeto previa também novas estações pelo percurso, já que boa parte da linha seria suspensa, muito parecida com o que acabou saindo do papel décadas mais tarde com a linha norte-sul do Metrô. A imagem abaixo mostra o estudo de uma estação no Parque D.Pedro II, elevando-se sobre o Rio Tamanduateí. Note que, embora em posição diferente da usada na Estação Pedro II atual, o conceito de parada era muito parecido.

Uma das ideias do Governo do Estado era também de estender o ramal de Guarulhos até a cidade de Santa Isabel, o que teria sido algo bastante arrojado para a época. Entretanto, isso nunca aconteceu, nem mesmo na linha a vapor que ia até o centro de Guarulhos e depois até a base aérea de Cumbica. Havia também o interesse do governo de passar a administração do Tramway da Cantareira para a Light, e só não ficou claro quem ia arcar com os custos dessa obra vultosa, se o governo ou a empresa estrangeira.

O croqui abaixo mostra o quão semelhante o projeto de 1926 era com o sistema atual do Metrô. Impossível olhar para a ilustração e não lembrar da nossa Linha 1 – Azul:

O projeto infelizmente nunca saiu do papel e o ramal da Cantareira continuou sendo um serviço lento, desatualizado e deficiente até ser desativado na década de 60. Sobre os motivos pelos quais a eletrificação do Tramway da Cantareira nunca virou realidade há muitas explicações, indo desde que não era interessante para a Light ou que não existia verba suficiente para tocar o ousado projeto.

A única verdade é que se esse incrível projeto tivesse realmente sido concretizado, a cidade de São Paulo teria iniciado o Metrô muitas décadas antes e hoje, provavelmente, teríamos muitos mais quilômetros e quilômetros de transporte coletivo eficiente e seríamos uma cidade muito menos dependente do carro. Mas isso, como muitas grandes ideias, ficou apenas no papel.

Abaixo, mais ilustrações do projeto: 

Divulgação

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