Como era São Paulo sem o Minhocão

O Minhocão, uma via elevada que corta São Paulo – como se vê na foto acima – ,  voltou à pauta depois que foi divulgado que, pelo novo Plano Diretor da cidade, ele está com os dias contados. Ainda não se conhece seu destino, se ele vai virar um parque linear ou se será demolido.

Mas achei interessante conhecer como era a cidade sem ele, ou como ficou durante sua construção, segundo a reportagem de Rose Saconi para o jornal “O Estado de S. Paulo”:

Avenida São João antes da construção do elevado. Antonio Aguillar/Estadão

Nos anos 1930 e 1940 a av. São João, no centro da cidade, era a “Quinta Avenida” do paulistano e um dos redutos da boemia da cidade. Além de grande número de cinemas, o local contava com boas casas residenciais e lojas comerciais requintadas. A então valorizada região central da cidade, de agitada vida cultural, viria a perder o glamour com a construção do Minhocão.

Os melhores cinemas da cidade ficavam na Avenida São João e Ipiranga, no centro.
A rua Amaral Gurgel, antes do elevado.
Praça Marechal Deodoro, em 1956.
A mesma praça em 1987, com o Minhocão rugindo sobre ela…
Vista noturna da Av. São João nos anos 1970, antes das obras do Minhocão.

Alguns dos bairros ao redor do Minhocão, como Santa Cecília e Higienópolis, foram escolhidos pelos barões do café para a construção de mansões e palacetes no início do século 20. Casarões, já com garagens, eram ocupados por pessoas de classe média alta. Nas ruas, cavalheiros de terno e mulheres bem vestidas. Mas no fim da década de 1950, com a avenida Paulista já recebendo os primeiros edifícios e conjuntos comerciais, a região começou a dar os primeiros sinais de deterioração. A construção do Minhocão acentuou a degradação da região e provocou drástica desvalorização imobiliária. Antes mesmo da inauguração, as placas de “vende-se” já cobriam as fachadas dos prédios da São João.

A construção do elevado.
Obra do Minhocão na av. São João.
O projeto do elevado São João teve origem na administração do prefeito Faria Lima (1965/1969). Foi apresentado a ele pelo arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirardi, mas foi recusado. O projeto foi retomado pelo prefeito biônico Paulo Maluf. Foi construído a toque de caixa, em apenas 11 meses. Maluf tinha pressa, seu mandato era de apenas dois anos, como o de todos os prefeitos indicados durante a ditadura militar. Em menos de um ano a população viu surgir uma obra monumental que passava entre os prédios e recebera o nome de Elevado Costa e Silva, em homenagem ao segundo presidente da ditadura militar. A via elevada, que prometia uma ligação rápida entre as zonas leste e oeste, foi entregue aos paulistanos no dia 25 de janeiro de 1971 como um “presente” do prefeito. Curiosamente, naquele dia um carro quebrado provocou o primeiro grande congestionamento do Minhocão, coisa que vem acontecendo até hoje.
Hoje se vê que os benefícios dessa obra, feita sem planejamento cuidadoso e que destruiu uma área urbana, foram rapidamente engolidos pelo chamado “progresso”. Com poluição ambiental em cima e degradação social embaixo, o Minhocão é uma cicatriz na cidade.
Técnico do IPT monitorando o nível de ruído no que restou da Avenida São João, em 1989.
Congestionamento no Elevado, em 1990.
Os baixos do Minhocão eram ocupados por moradores de rua e usuários de droga até agosto de 2015, quando a prefeitura inaugurou uma ciclovia na área e os transferiu para os centros de acolhida municipais.

 Vamos torcer para que a decisão sobre esse desastre urbano que é o Minhocão seja tomada logo e que sua revitalização seja implantada ainda neste século…

Comments

Uma resposta para “Como era São Paulo sem o Minhocão”.

  1. Avatar de O primeiro projeto de Metrô de São Paulo | O TRECO CERTO

    […] dias, publiquei um post sobre como era a cidade de São Paulo antes do monstrengo, digo, Minhocão (aqui), e que hoje é alvo de especulações sobre seu fim. Ou será demolido ou transformado em um […]

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