O HOTEL AMALDIÇOADO DO GUARUJÁ

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As lendas macabras no litoral paulista

Guarujá é uma cidade no litoral do estado de São Paulo, muito procurada pelos turistas na alta temporada, e conta com praias urbanizadas e algumas selvagens, acessíveis apenas por trilhas.

Fica na ilha de Santo Amaro, e a região começou sua ocupação ainda na época dos jesuítas, quando os fortes foram construídos para proteção da costa, por sua localização estratégica. Durante toda a fase colonial e imperial, a ilha não atraiu atenção, e somente no final do século 19, com a existência de um acesso ferroviário rápido e fácil entre o litoral e o Planalto Paulista, as coisas começaram a mudar.

Em 1893 é inaugurado o Hotel Cassino La Plage, que logo se tornou o reduto da alta classe paulistana no verão, um marco no turismo de luxo. Essa sua primeira versão, feita de madeira, durou pouco tempo, tendo sido destruída por um incêndio de grandes proporções quatro anos depois. O hotel foi reconstruído e reinaugurado em 1898, já de alvenaria e com dois andares, buscando se igualar aos hotéis europeus da época.

Na década de 1910, ele foi substituído por uma terceira edificação, projetada pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, um dos maiores arquitetos brasileiros. Foi inaugurada em 1913 e se destacava por sua imponência. O novo Hotel Cassino La Plage tinha eletricidade, elevador e telefone, um grande avanço tecnológico, atraindo em peso a alta sociedade e personalidades importantes da época. 

Destinado a uma elite acostumada ao luxo, suas instalações eram requintadas. Lustres de cristais, estofados russos, tapetes persas e lençóis de linho eram detalhes obrigatórios da decoração. Segundo depoimento de Iracy Sório Morone, antiga moradora de Guarujá, que chegou a trabalhar no Grande Hotel de La Plage – como ficou sendo chamado após sua reconstrução- havia um cuidado especial na contratação dos serviçais. “Os garçons eram muito bem escolhidos. Tinham de ser apresentáveis e, se possível, ter a mesma estatura Tinham de vestir sempre paletó e camisa engomada. O “maitre” tinha que saber vários idiomas, pois grande parte dos hóspedes era composta de estrangeiros”
Durante muito tempo – principalmente no início do século – o hotel, o cassino e os chalés, constituíam uma atração maior do que as próprias condições balneárias da cidade. O jogo rivalizava com o banho de mar, que, para a maior parte daqueles sizudos senhores, constituia apenas uma recomendação médica. Os mais jovens, porém, sabiam apreciar o mar e eram assíduos frequentadores das cabines de troca de roupa instaladas nas imediações do hotel e na faixa de areia da praia. Entrar na água era uma operação feita com muitos cuidados. Além da areia, do sol e do mar, compunham a paisagem cordas presas a madeiras, às quais as pessoas se agarravam prevenindo-se contra os possíveis maus humores das ondas.

Do livro “Pérola ao Sol, apontamentos para uma história do Guarujá” de Mônica de Barros Damasceno e Paulo Mota.

As cabines de banho eram comuns, então.  Importadas dos Estados Unidos no início, eram consideradas elegantes pela elite, porque ofereciam o conforto de uma suíte e ainda podiam levar os banhistas, sobre rodas (eram empurradas pelos funcionários), até a beira da água, evitando que eles se bronzeassem. Isso era tido como antiestético e vulgar…

Porém, tamanho luxo não impediu que alguns acontecimentos ao longo dos anos lhe rendessem a fama de ser um lugar amaldiçoado. Foi em sua terceira versão que as histórias começaram…

Logo em 1913, ano de sua reinauguração, o ex-presidente do Brasil, Manoel Ferraz de Campos Salles, faleceu subitamente após uma embolia pulmonar na suíte 44. E quinze anos depois, em 1928, numa sexta-feira 13, Ramos de Azevedo também faleceu de forma súbita no mesmo quarto do ex-presidente!

Ramos de Azevedo, Santos-Dumont e Campos Salles

Mas, o maior dos mistérios veio em 1932, quando o inventor do avião, Alberto Santos- Dumont, cometeu suicídio, enforcando-se com a gravata no fatídico cômodo de número 44. O motivo real da morte foi abafado pela imprensa e pelas autoridades da época, e seu atestado de óbito registrava ataque cardíaco. Embora as camareiras tivessem relatado que encontraram seu corpo enforcado com a gravata, há outros relatos de que Santos-Dumont teria sido assassinado por ser homossexual e não atender ao padrão aceito pela sociedade cafeicultora brasileira, o que representaria um dos primeiros casos de homofobia.

Entretanto, como ele já sofresse há anos de esclerose múltipla e transtorno bipolar, a causa do suicídio teria sido a depressão.

Em 1949, durante a realização de um baile de Carnaval, aconteceu nova tragédia. Os irmãos Olímpio e Eduardo Matarazzo foram baleados e mortos no salão nobre do hotel por um delegado da polícia local, após uma discussão banal. O escândalo abalou a sociedade paulista à época.

Finalmente, o hotel é demolido na década de 1960 e, no terreno que ele ocupava, na praia das Pitangueiras, foi erguido em 1992 o Shopping La Plage.

Mas coisas estranhas continuaram a acontecer no local do antigo hotel. Há relatos de funcionários que afirmam terem presenciado manifestações paranormais, como a aparição de fantasmas. Dizem que o mais célebre dos mortos no local, o aviador Santos Dumont, ainda vaga por lá.

As lendas urbanas afirmam que muita gente que trabalha à noite escuta músicas e barulhos de festa, que sempre terminam com gritos e tiros. Os funcionários ouvem também choros e soluços.

Uma delas conta que…

 … Eram quase quatro da manhã quando um dos vigias que inspecionava os corredores viu o espectro de um homem enforcado pela gravata. O vigia saiu correndo desesperado, nunca mais voltou ao local. O funcionário disse também: “Como tudo isso sempre acontece entre três e quatro da manhã, não se tomam providências e acaba que os vigias e o pessoal da limpeza são sempre desacreditados e vistos como loucos”.

Dino Menezes, idealizador do Projeto “Pra quem acredita em fantasmas“. Realizador do Passeio Assombrado de Santos.

Há quem acredite que o local onde o antigo hotel La Plage foi construído, no final do século 19, teria sido um cemitério indígena que foi desrespeitado. Embora a história do Guarujá remonte a tempos indígenas, não há informações sobre a localização de cemitérios indígenas específicos no local onde o hotel foi construído. 

Fontes:

guarujadasantigas.blogspot.com

novomilenio.inf.br

Wikipedia

cabangu.com.br

dinomenezesii.medium.com

difusao.cmu.unicamp.br

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