A moradora de uma pequena casa de Guangzhou, na China, recebeu propostas e propostas, mas, dez anos depois de tentar ser removida de seu lar, viu ser construído um viaduto em volta dele, para a passagem de carros. Segundo o South China Morning Post, foram anos de negociação, mas sem resultado positivo para o governo local, que resolveu seguir com sua obra fazendo apenas um pequeno desvio e preservando a casinha da moradora.
Nas imagens, é possível ver que em um trecho as pistas opostas se abrem e revelam a residência.
O governo ofereceu dinheiro e moradias alternativas para desapropriar o terreno, mas foi derrotado pelo cansaço. Ela, identificada como Liang, reclamou, inclusive, que uma das propriedades fica perto do necrotério e por isso não podia se mudar para lá.
O site chinês cita que foram oferecidos dois apartamentos e US$ 186 mil, abaixo do que ela achou justo exigir: quatro propriedades e US$ 287 mil. Sem ser atendida, ela ficou.
A casa virou atração local, atraindo gente pra visitar e tirar fotos das condições no mínimo curiosas. Sete empresas e 47 outras residências deixaram o local em setembro de 2019 para dar lugar à obra.
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Muita gente, ao ler a notícia, se perguntou se, na China, há o direito à propriedade privada. Sim, desde 2007, foi aprovada uma lei dando esse direito.
O que ocorre é que o modelo econômico introduzido por Deng Xiaoping, baseado em uma economia de mercado, é chamado de “socialismo com características chinesas”. A fórmula foi bem-sucedida e permitiu à China começar a crescer, de forma sustentável, em níveis recordes, por três décadas.
O Banco Mundial estima que mais de 850 milhões de chineses saíram da pobreza graças às reformas, como parte de um desenvolvimento sem precedentes. Os líderes posteriores — Jiang Zemin, Hu Jintao e o atual presidente do país, Xi Jinping — mantiveram os planos de reforma e abertura.
A China se modernizou e hoje não apenas domina a fabricação de roupas, têxteis e eletrodomésticos. É também um gigante tecnológico. A multinacional Huawei, a maior empresa privada da China, é líder no desenvolvimento da tecnologia 5G e a segunda maior fabricante de telefones celulares do mundo.
Outra empresa privada, a Lenovo, vende mais computadores pessoais que qualquer outra empresa no mundo.
Enquanto isso, a Alibaba, do empresário Jack Ma, domina o comércio online, com um faturamento que supera o da Amazon, sua rival americana. E os fundadores dessas empresas estão entre as centenas de chineses que agora fazem parte da lista de bilionários da revista Forbes.
Com tudo isso, vale a pena perguntar: podemos continuar chamando a China de país comunista?
Do ponto de vista político, a resposta é: definitivamente, sim.
70 anos depois de Mao chegar ao poder, o país ainda é governado por uma única força, o Partido Comunista da China, que opera de forma centralizada e tem líderes em cada cidade e região do país.
O presidente é eleito pela Assembleia Popular Nacional (o Parlamento), que é controlada pelo Partido Comunista. Não há liberdade de imprensa e, com exceção de alguns meios de comunicação privados, o setor de mídia está sob controle estatal.
Segundo a organização de direitos humanos Human Rights Watch, o governo chinês “mantém controle rígido sobre a internet e os meios de comunicação”. Também “persegue comunidades religiosas” e “detém arbitrariamente defensores dos direitos humanos”.
No entanto, quando o país é analisado por uma perspectiva econômica, é outra história.

“Economicamente, a China está hoje mais próxima do capitalismo do que do comunismo”, disse Kelsey Broderick, analista especializada em China da consultoria Eurasia Group. “É uma sociedade de consumo, o que é completamente oposto ao comunismo”, disse.
No entanto, Broderick alerta que, embora à primeira vista a economia chinesa pareça completamente capitalista, “se você remover a camada mais superficial, poderá ver a mão pesada do Partido”.
A “mão invisível” do Partido Comunista da China está em todos os aspectos da economia.
As camadas inferiores trabalham de forma mais próxima ao capitalismo, mas o controle é definitivamente mais visível no topo da pirâmide econômica: o Estado determina, por exemplo, o preço do yuan e quem pode comprar a moeda chinesa.
É o Estado que controla quase todas as maiores empresas do país que administram os recursos naturais. Ele também é oficialmente o proprietário de toda a terra, embora, na prática, as pessoas possam ter propriedades privadas.
E o Estado também controla o sistema bancário, decidindo quem pode tomar empréstimos.
Até as empresas privadas chinesas devem passar por inspeções estatais e ter “comitês partidários que possam influenciar a tomada de decisões”, diz Broderick.
Isso também ocorre com algumas empresas estrangeiras, no caso de terem entre seus empregados três ou mais funcionários do Partido Comunista (situação comum, considerando que o partido tem quase 90 milhões de membros).
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