Anos Dourados | moda e comportamento anos 50

A Segunda Grande Guerra havia terminado, deixando a Europa literalmente em escombros, assim como o Japão depois do lançamentos de duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. A política continuava bastante tensa, pois a Guerra havia colocado a então União Soviética no palco das grandes potências. Stalin, ditador, chegou até a Alemanha, mas não saiu do país, conforme tratados anteriores.

Totalmente destruída devido a bombardeios dos Aliados, inclusive na população civil alemã (algo que a História tenta esconder até hoje), os Aliados nada puderam fazer e o país foi dividido em dois: Alemanha Oriental, um satélite da URSS e a Alemanha Ocidental, democrática e com suporte dos Aliados (França, Inglaterra e Estados Unidos). A capital Berlim, dividida, foi transferida para Bonn (famílias inteiras foram divididas juntamente com o Muro) e permaneceu neste status quo até 1989, com a Queda do Muro de Berlim, já na era de Mickhail Gorbachev.

Em pouco tempo, a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética emergiu forte e perigosa, com a diplomacia deixada de lado. Essa animosidade  culminou com a Guerra da Coreia, onde Estados Unidos apoiavam o Sul e a União Soviética, o Norte. Nunca foi assinado qualquer armistício até hoje e a divisão das Coreias é um pesadelo para suas populações.

Ao fim, Coreia do Sul passou a ser aliada dos americanos e a Coreia do Norte, apoiada pelos soviéticos, deu no que deu até hoje: o país mais fechado do mundo, governado pelo terror e pelo medo da terceira geração de Kim  Jon Il, o patriarca do país. Momentos de tensão e a ameaça de uma guerra nuclear pairavam no ar como um peso na cabeça de todo o mundo.

E ainda tinha mais: este cenário tenso ainda jogou mais água na fervura. Era o tempo da caça às bruxas,  Comitê de Atividades Antiamericanas ( HUAC, em inglês) do senador por Wisconsin, Joseph McCarthy.

Joseph McCarthy

Artistas, escritores, pessoas comuns ficaram na mira da Comissão para “varrer o comunismo” do território americano. Foi um absoluto desrespeito às liberdades individuais que haviam emergido com força total depois da Guerra. Afinal, o Ocidente, capitalista era o símbolo da liberdade de expressão, da livre iniciativa. Começava também a política anti-segregação racional no sul dos Estados Unidos. É o início dos direitos civis para os negros americanos.

Mesmo assim, o mundo vivia a euforia de mais um pós-guerra, onde mais de 25 milhões de pessoas morreram e o mundo soube dos horrores do Holocausto, a grande matança de judeus, ciganos, gays e outras minorias pelas SS alemãs.

O mundo queria ‘passar uma borracha’ em tanta atrocidade e tentava criar uma forma de viver e mudar tudo o que estava aí, esquecendo o passado de perdas e tristeza.

O rock ainda engatinhava, mas seu ídolo máximo, Elvis Presley, lindo e jovem, fazia a mulherada delirar.

Quando se alistou na Guerra da Coreia, as fãs choravam, mas ele, como bom-moço que era à época, foi servir seu país. Na volta, o escândalo: inventou a dança rebolante do rock e os seus trejeitos correram mundo. A moçada começa a servir-se da liberdade e dos direitos civis, que ainda iriam dar o que falar – e convulsionar o mundo – na década seguinte.

Evidentemente, a moda refletia a euforia, a liberdade, a conquista de ser você mesmo. Até porque, com a guerra terminada, retornava o dinheiro e o glamour! Era a época das pin-ups.

O “New Look” de Dior é a grande referência da moda feminina nessa fase do século XX: cintura marcada; saia godê; calça corsário (capri); sapatilhas; cintos finos e tons pastel. Chega de preto, verde oliva, azul-marinho. A onda eram os tons pasteis, leves como a sociedade Ocidental queria viver.

O “New Look” de Christian Dior fez a cabeça da mulherada mundo afora. Sem racionamento, a partir de 1947, Dior usava metros e mais metros de tecido para criar um vestido bem amplo e na altura dos tornozelos.

NUNCA uma tendência foi tão rapidamente aceita como o “New Look” de Dior. A mulher necessitava sentir-se feminina novamente, gostar do luxo e da sofisticação. As saias desciam novamente. Cintura bem marcada e sapatos de saltos altos,  luvas e outros acessórios de luxo, como pele (ainda não havia restrições ecológicas) e joias, muitas joias .

O ícone fashion da temporada era a maravilhosa e estilosa AUDREY HEPBURN!

A influência do “New Look” foi tão arrebatadora que os estilistas do século XXI, da Maison Dior, continuam colocando a cintura marcada, as saias rodadas e os chapéus em suas coleções, a exemplo de John Galliano em 2008, antes de cair em desgraça por racismo.  É o genial na simplicidade sofisticada. Este é o conceito do “New Look”.

Grace Kelly, a atriz que virou princesa, era um dos ícones do “New Look”…,assim como Brigitte Bardot, que estouraria no mundo inteiro com o filme ““… E Deus fez a Mulher”, de Roger Vadim.

 

Grace Kelly
Brigitte Bardot

A blusa ombro a ombro, também chamada de Brigitte Bardot, foi uma das primeiras peças de moda a cair no gosto popular, e sem estar nas passarelas. O mesmo se deu com o xadrez (Vichy) e o “petit pois” (as famosas bolinhas, bolas e bolonas na estamparia da época e, claro, o retorno delas décadas depois).

O mix de listras, xadrez e outras estampas vem dos anos 50. É o de sempre: o que foi ontem volta hoje “repaginado”

Tudo parecia simples e prático, acompanhando as mudanças provocadas pela Guerra.

A década foi marcada por três mulheres com Estilos & Atitudes diferentes. Tinham em comum o charme e o glamour.

Audrey Hepburn – estilo e sofisticação. Meiga, mas ciente de seu lugar no mundo;

Brigitte Bardot – menina, despojada, mas estilosa e dona de si. Estilo mais solto, sem se ater a uma tendência ou outra.

Grace Kelly – faz mais o jeito de Audrey Hepburn. Imagem meiga, sofisticada, estilo clássico – especialmente ao se tornar a Princesa de Mônaco. Foi a atriz favorita de Alfred Hitchkok.

A VOLTA DE CHANEL

Somente em 1954 Coco Chanel reabriu sua Maison em Paris, fechada durante toda a guerra. Primeiramente foi vista como “colaboracionista” do governo de Vichy, aliado dos alemães, pois havia sido amante de um oficial das SS ( o livro “Dormindo com o Inimigo” fala sobre essa fase da vida de Chanel). Aos 70 anos de idade, criou algumas peças que se tornariam ícones inconfundíveis: o tailleur com guarnições trançadas, a famosa bolsa a tiracolo em matelassê e o scarpin bege de ponta escura.

A tradição e os valores conservadores estavam de volta. As pessoas casavam cedo e tinham filhos. Nesse contexto, a mulher dos anos 50, além de bela e bem cuidada, devia ser boa dona-de-casa, esposa e mãe. Vários aparelhos eletrodomésticos foram criados para ajudá-la nessa tarefa difícil, como o aspirador de pó e a máquina de lavar roupas. A calça “rancheira” usada por trabalhadores rurais entra para o mundinho fashion e vira febre da moçada.

O símbolo da calça jeans e camiseta branca foi o ator James Dean.

Topete, T-shirt branca, calças jeans detonadas e o cigarro sempre na boca.  Símbolo do cinema americano da época, sua fama só cresceu ao morrer ainda jovem num acidente de carro.

James Dean foi a personificação do Estilo& Atitude masculino, Estilo que é também descontração. Quanto à Atitude, basta ver o seu olhar na foto.

Em contraposição ao estilo americano descartavelmente planejado, com produtos pouco duráveis, na Europa ressurgiu, especialmente na Alemanha, o estilo modernista da Bauhaus, uma escola de arte, design e arquitetura fundada em 1919 por Walter Corpius ( durou apenas 14 anos, mas influenciou o modernismo e continua atualíssimo), dando continuidade à criação inovadora.

O foco era a fabricar bens duráveis, com design voltado à funcionalidade e ao futuro. De cadeiras a edifícios, a fórmula de linhas simples, durabilidade e equilíbrio eram os pontos fundamentais de qualquer criação que levasse a assinatura dos arquitetos e designers, incluindo a União Soviética, um dos pilares da Bauhaus, considerada arrojada e vanguardista até hoje. Discípulos famosos foram Oscar Niemeyer, Lúcio Costa ( a concepção da Esplanada dos Ministérios é puramente Bauhaus) e Philip Stark, o designer mais famoso da atualidade.

Objetos da Escola de Arquitetura e Design Bauhaus

Criação de Marcel Breuer
Cadeira Barcelona criada por Mies van der Rohe, em1929.

Ao som do rock and roll, a nova música dos anos 50, a juventude norte-americana e mundial buscava sua própria moda. Entre os negros, era vez do jazz. Ambos os ritmos mudaram o modo de ouvir música e lançaram grandes nomes, como Beatles, Louis Armstrong e outros gênios da música americana. O jazz influenciou a bossa nova brasileira que também ganhou o mundo. Uma década de experimentação, inovações e liberdade.

MODA

Na moda? Bem, a moda foi para o lado colegial, que teve origem no sportswear. As moças agora usavam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans.

O conforto passou a ser a palavra-chave para o vestir, um critério que adotamos até hoje, a MODA CONFORTÁVEL acima de tudo. As maisons francesas voltaram com tudo com a “haute couture”, sempre para poucas, e o streetwear começa a ganhar força. Um claro sinal de que a moda estava sendo ‘desconstruída’ de acordo com a época. Eram ícones que se tornavam objetos ‘cult’ por serem confortáveis, de fácil acesso e barato: camisetas, calça Levi´s, sapatilhas, tecidos para as costureiras ( quase toda a roupa da classe média era realizada por costureiras).

Moda praia
Calça Cigarrete anos 50 (quase uma legging)
Calça capri

As revistas de moda e das celebridades dos cinemas serviam de ‘inspiração’ para os vestidos rodados, as saias plissadas feitas pelas costureiras. O motivo: a mão-de-obra barata que ficou desempregada depois da Guerra e a profusão de tecidos incríveis em todo o mundo.

Será apenas no final da década de 60 que o binômio passarela/ruas irá mudar para ruas/passarela, fórmula que se mantém até hoje, tal a força da MODA CONCEITO, MODA CONFORTO, MODA STATEMENT, que as ruas levam até as passarelas e não “the other way around”.

 

 

Fonte:

ecolebrasil.com, Mônica Ayub – Jornalista, empresária e assessora de comunicação. Autora do Livro Estilo e Atitude: Reflexos da moda: XIX ao século XXI

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