Acreditava-se que crânios que começaram a ser escavados sob a Cidade do México em 2015 seriam de guerreiros capturados em batalha e decapitados.

Ao longo dos últimos séculos, ela era conhecida no México, onde vinha sendo passada de geração a geração: a história sobre uma “torre de crânios” e que espalhava medo e pavor entre os conquistadores espanhóis. Relatos diziam que a estrutura era composta de milhares de cabeças de guerreiros decapitados.
Por 500 anos, os crânios ficaram intactos sob o solo daquela que um dia foi a capital asteca, Tenochtitlan, no local onde hoje fica a Cidade do México. Até que, há 5 anos, um grupo de arqueólogos descobriu os primeiros crânios – dando início à revelação de seus segredos…

Uma das descobertas surpreendeu os pesquisadores: ao realizarem uma análise dos crânios, os arqueólogos identificaram que 75% dos restos mortais correspondiam a homens saudáveis que tinham idades entre 20 a 35 anos. Isso reforça a ideia de que guerreiros inimigos foram sacrificados em rituais dedicados ao deus da guerra dos astecas. Os crânios de mulheres e crianças, que também foram encontrados, pertenceriam supostamente a escravos, que foram aprisionados durante os conflitos.
“Nós estávamos esperando encontrar apenas homens, homens jovens, como soldados costumam ser. Você nunca vai imaginar mulheres e crianças indo para a guerra“, afirmou à agência de notícias Reuters Rodrigo Bolanos, um dos antropólogos que participaram da pesquisa.
Até agora, arqueólogos encontraram 676 crânios nessa região perto da Catedral Metropolitana da Cidade do México, que foi construída sobre o Templo Mayor, um dos mais importantes templos astecas de que se teve conhecimento.

Os arqueólogos estão certos de que é uma das prateleiras, ou “tzompantli”, descritas pela primeira vez pelo soldado Andres de Tapia, que acompanhou Hernan Cortés em 1521 na conquista do México. Cortés chegou a Veracruz, na costa leste do México, em 1519. Dois anos depois, aliando-se a outros grupos indígenas, os espanhóis conquistaram a capital asteca.

Os pesquisadores conseguiram reunir vestígios para calcular as dimensões da oferenda: de acordo com um artigo publicado na revista científica Nature, esses crânios eram dispostos em uma construção de 35 metros de comprimento e cinco metros de altura.
Considerada uma das civilizações mais organizadas que foram constituídas na América antes do período das Grandes Navegações, no século 16, os astecas dominaram territórios que atualmente correspondem ao México. Eles foram subjugados pelas tropas espanholas após a conquista da capital Tenochtitlan, em 1521.
Em 1545, os astecas foram dizimados por uma tragédia, quando a população começou a adoecer com febres, dores de cabeça e sangramentos nos olhos, boca e nariz. Geralmente, os doentes morriam em três ou quatro dias após o contágio.
Em cinco anos, 15 milhões de pessoas, cerca de 80% da população restante, foram dizimadas numa epidemia que os locais chamaram de “cocoliztli”. A palavra significa “peste” na língua asteca nahuatl. A causa do flagelo, porém, ficou desconhecida por cinco séculos.
Havia várias teorias para a epidemia: ela poderia ser varíola, caxumba e até mesmo gripe. Mas, finalmente, a verdadeira culpada foi encontrada por cientistas alemães: febre entérica – também conhecida como febre tifoide.
Violenta, a doença mata em cerca de três ou quatro dias e esse surto que assolou o México é considerado um dos mais mortais da história da humanidade, chegando perto da Peste Negra, que tirou 25 milhões de vidas no oeste da Europa durante o século XIV.
A descoberta veio após a extração de DNA de 29 esqueletos enterrados em um cemitério da época da cocoliztli; neles, os cientistas descobriram traços da bactérica salmonela entérica – que não só causa a febre entérica como também estava presente na Europa na mesma época.
O grande problema é que os astecas não conheciam a doença nem possuíam as defesas imunológicas para controlar os seus efeitos. Na Europa, o corpo humano já desenvolvera defesas, pois a bactéria manifestava-se desde a Idade Média na água ou nos alimentos. Segundo o estudo da universidade alemã, a bactéria teria viajado para o México via os animais levados pelos europeus, liderados por Hernan Cortés.
A epidemia de 1545 veio depois de várias doenças trazidas pelos colonizadores nas duas décadas anteriores, como varíola, sarampo, tifo e caxumba que tornaram-se epidemias em curto espaço de tempo e mataram entre cinco e oito milhões de pessoas na ocasião.
Para se ter uma ideia da devastação causada por essas doenças, a capital do império asteca Tenochtitlan tinha aproximadamente 30 milhões de pessoas antes da chegada dos invasores. No final do século, restavam pouco mais de 2 milhões.

Agora, é possível confirmar – de uma vez por todas – que o grande azar dos astecas foi justamente terem sido descobertos pelos europeus.
Fonte:
BBC Brasil
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