Obra de Ritanna Armeni reconstrói a história das soviéticas que lutaram durante a Segunda Guerra

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de homens e mulheres. Nunca antes em toda a História tantas mulheres, em diferentes países, foram chamadas a contribuir com um esforço de guerra como entre os anos de 1939 e 1945. Elas ocuparam funções que antes eram consideradas masculinas, como engenheiras, supervisoras de produção e motoristas de caminhão, por exemplo, e também se alistaram nas Forças Armadas.
A obra As Bruxas da Noite, da jornalista e escritora italiana Ritanna Armeni, conta a história das aviadoras soviéticas que defenderam seu país durante a Segunda Guerra Mundial e foram responsáveis pelos bombardeios que atingiram e dizimaram tropas alemãs.
Recentemente lançada pela Editora Seoman, a obra reconstrói a trajetória das aviadoras do 588º Regimento de Bombardeio Aéreo Noturno Soviético, que, ao todo, realizaram mais de 23 mil vôos noturnos em 1100 noites de intensos ataques.
Para escrever sua narrativa, Ritanna Armeni entrevistou a última aviadora viva, Irina Rakobolskaja, hoje com 96 anos. A jornalista deixa bem claro em sua obra a importância dessas mulheres durante as batalhas contra o Terceiro Reich.
O apelido de Bruxas da Noite lhes foi atribuído pelos alemães, pois se sentiam ameaçados por essas mulheres. Elas sempre atacavam os nazistas durante a noite e com os motores desligados, com o intuito de não chamarem a atenção.
A função do 588º regimento era o de espalhar o pânico nas tropas alemãs, bombardeando suas linhas de defesa avançadas dentro da URSS, causando pânico e impossibilitando o descanso das tropas.
O bombardeio de assédio é uma tática psicológica, na qual, de modo imprevisto mas constante, fustiga-se o inimigo com bombas de baixa potência, imprimindo às tropas assediadas elevado estresse, baixando o moral e minando sua aptidão para a luta.
Esse regimento aéreo surgiu porque, durante a guerra, ficou evidente a necessidade de ampliar a força aérea soviética para impor alguma defesa contra a poderosa e soberana Luftwaffe (a Força Aérea Alemã), tendo as mulheres também sido incumbidas nessa função.
Grande parte da concepção do regimento aéreo feminino partiu dos esforços da Coronel Marina Raskova, uma aviadora russa com status de celebridade por seus trabalhos em aerodinâmica e na Zhukovsky Air Academy (Academia Aeronáutica Zhukovsky).

Raskova usou sua influência para persuadir Joseph Stalin, que concordou em criar três regimentos femininos na aviação soviética, emitindo a ordem de criação em 8 de outubro de 1941 e operando efetivamente a partir de 1942.
Cada regimento aéreo possuía cerca de 400 mulheres, todas marcadas pela coragem e voluntariedade de servir às Forças Armadas e tendo a maioria vinte e poucos anos de idade. O corpo militar era completamente formado por mulheres, seja pilotando, consertando, administrando ou comandando.
Devido à pressão exercida pelo exército alemão, o tempo de treinamento de aviadores e aviadoras foi reduzido de 4 anos para poucos meses.

Para realizar suas funções, as aviadoras receberam os obsoletos Polikarpov’s Po-2, aviões criados em meados da década de 1920 e geralmente utilizados para o ensino de navegação aérea ou utilidade agrícola. A velocidade máxima do aparelho aéreo, mesmo embalado, não ultrapassaria os 150 km/h.
Os Polikarpov’s Po-2 eram construídos praticamente com madeira, lona e algum tecido, ficando incrivelmente suscetíveis a incêndios devido à sua composição altamente inflamável, onde apenas o motor era constituído de aço. Muitas vezes bastavam apenas alguns tiros para que os aviões se tornassem verdadeiros cometas desgovernados antes de se chocar contra o solo.
Além de lentíssimos, possuíam pouca capacidade de carga (aproximadamente 300 quilos), obrigando as aviadoras ao cumprimento de várias missões numa mesma noite, muitas vezes chegando a quase 20 incursões.
Em meio às desvantagens de se pilotar aeronaves tão antigas, surgiram algumas vantagens inesperadas. Uma de grande importância residia no fato de que os modernos caças da Luftwaffe possuíam a velocidade mínima bem superior à máxima dos Po-2, o que fazia com que os pilotos alemães, embora experientes, arriscassem a vida em manobras reprováveis por qualquer comando aéreo, sendo praticamente inúteis contra as Bruxas da Noite.

Outra vantagem dos Polikarpov’s Po-2 era a fácil tarefa de encontrar alvos terrestres para atacá-los com maior precisão. Esse fato se devia justamente à baixa velocidade e excelente manobrabilidade.
Ainda, as aviadoras realizavam voos em baixíssima altitude, deixando os alemães ainda mais perdidos sem saber onde se esconder
Mesmo com tamanha dedicação ofertada em prol da sobrevivência do estado soviético, o intransigente conservadorismo e o preconceito, sobretudo de gênero, permeava a sociedade soviética e prevaleceu, encerrando prematuramente a carreira das aviadoras.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, as Bruxas da Noite, assim como tantas outras mulheres, foram sumariamente desligadas das Forças Armadas, entrando a maioria no esquecimento e até sofrendo desprezo por parte da população.
As aviadoras também tiveram dificuldade em publicar suas memórias de guerra devido à forte censura do Estado liderado por Stalin, que retirava qualquer passagem tida como inapropriada à URSS.
Ritanna Armeni busca, então, reconstruir a história das Bruxas da Noite em seu livro, pois segundo a autora, a sociedade nunca deveria ter apagado da memória a luta dessas guerreiras.
Fontes:
aventurasnahistoria.uol.com.br
incrivelhistoria.com.br
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