James Bond, o espião mais célebre da ficção, rodeado sempre de carros luxuosos, mulheres deslumbrantes e martinis, foi concebido em Portugal, onde seu criador, Ian Fleming, se inspirou nos segredos de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial.
Funcionário do Serviço de Inteligência Naval Britânica, o futuro autor chegou a Portugal em maio de 1941, junto com a comitiva de Sir John Godfrey. Portugal afirmava-se como país neutro, mas era urgente estreitar laços estratégicos com os Estados Unidos e os Aliados. Sob o regime de Salazar, Portugal pouco tinha a ver com a política europeia, sendo a sua vocação essencialmente ultramarina, pelo que o interesse português era o de afastar-se o mais possível desse conflito.
Salazar sempre se manifestou contra o anti-semitismo Nazi e, desde o início das perseguições aos judeus na Alemanha, sua política foi a de autorizar a sua entrada desde que pudessem deixar o país rapidamente, ou seja, uma política de trânsito para outros países, principalmente os Estados Unidos e o Brasil. Não por serem judeus, mas sim por serem potenciais motivos de tensão com a Alemanha, que Salazar temia, ou serem agitadores políticos e subversivos. O fato é que essa liberdade de trânsito trouxe refugiados de toda a Europa, e, em meio a eles, muitos agentes clandestinos.
Estoril, a 27 km de Lisboa, tornou-se um lugar estratégico das redes de espionagem dos dois lados e um ponto de referência para chegar ao continente americano. Os Aliados elegeram o Hotel Palácio como seu quartel-general, e foi ali, em suas elegantes acomodações, que o agente Ian Fleming, então com 33 anos, recebeu sua perigosa missão…

Naquele “ninho de espiões” em que o pacato balneário havia se transformado, Fleming convivia com espiões, muitas vezes nos balcões dos bares, com quem compartilhava martinis – o drinque que se tornaria indissociável de James Bond – e conheceu o código morse usado para enviar informação confidencial.

A missão do agente era subornar o diplomata iugoslavo Dusko Popov, trazendo-o para o lado do MI6 (Military Intelligence, Section 6, a agência britânica de inteligência que abastece o governo britânico com informações das potências estrangeiras). Mal sabia ele que Popov trabalhava para os alemães…

A reputação de Popov, considerado “bon vivant” e “playboy”, marcou tanto Fleming que seu James Bond adotou vários traços do iugoslavo. Popov, cliente do Hotel Palácio, era muito profissional, com muito boa aparência e fazia enorme sucesso entre as mulheres. Ele chegou a ser apelidado no jargão dos serviços secretos com o código “triciclo”, porque andava muitas vezes acompanhado de três belas mulheres.
No Cassino de Estoril, o autor britânico viu Popov apostar US$ 40 mil (equivalente a quase US$ 650 mil em valores atualizados) em uma mesa de bacará, somente para despistar um inimigo. Este episódio foi utilizado como base para a primeira obra sobre James Bond, “Cassino Royale” (1953), onde o agente 007 enfrenta o vilão Le Chiffre em uma mesa de bacará.

Essa cena também é uma das mais tensas do primeiro episódio no cinema estrelado por Daniel Craig como James Bond, “Casino Royale”.
Quem diria que James Bond é português, hein?
OBS – Fleming, como espião, teve sucesso em atrair Popov para os Aliados, já que o iugoslavo tinha antipatia pelos nazistas e aceitou de bom grado ser um agente-duplo. Foi nesse mesmo 1941 que Popov obteve um relatório alemão que descrevia detalhadamente o ataque surpresa que o Japão faria contra a base naval americana de Pearl Harbor no Havaí. Ele levou um mês para finalmente conseguir uma reunião com o então diretor do FBI e do Serviço Secreto, John Edgar Hoover. Hoover, que já conhecia o estilo de vida do espião, achou que o relatório era uma farsa e descartou-o. A reunião acabou numa discussão acalorada. Quando Dusko Popov estava voltando de uma viagem ao Brasil, no dia 7 de dezembro de 1941, o ataque japonês foi deflagrado. Essa era a data prevista no relatório…
Fontes:
Miguel Conceição-UOL Mais Educativa Wikipedia
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