Em 1969, o DJ Russel Gibb, da rádio WKNR de Detroit, deu a chocante notícia: Paul McCartney está morto. O beatle morrera em um acidente de carro havia três anos. Parecia absurdo, mas ouvintes adicionaram detalhes. Um certo Adam LaBour chegou a descrever a morte de McCartney em artigo para o jornal da Universidade de Michigan. O fato se espalhou tão rápido que Paul teve de se deixar fotografar pela revista Life com a família, em sua fazenda.
De fato, Paul sofreu um acidente de moto perto de Liverpool, ficando com uma cicatriz no lábio e um dente quebrado. Isto pode ser observado nos vídeos de “Paperback Writer” e “Rain”, onde Paul aparece com um implante dentário e com os lábios inchados. Mas tudo começou, na verdade, bem antes.
Em 1966, logo após o lançamento do álbum Revolver, os Beatles pararam de excursionar em virtude da dificuldade de tocar ao vivo os arranjos cada vez mais complexos e inusitados de suas músicas. Esse “sumiço” dos Beatles dos palcos alimentou a boataria. Paul teria morrido no acidente, mas tudo foi “abafado” e por isso eles não faziam mais apresentações ao vivo. Paul tinha um sósia quase-perfeito, que inclusive teria sido seu dublê durante as filmagens de “A Hard Day’s Night” (1964) e “Help!” (1965). Logo, o tal sósia foi convocado – seu nome seria William Campbell (outras fontes citam que o nome do sósia seria Billy Shears, personagem que seria “apresentado” ao mundo, de forma velada, em Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band), já que os Beatles tinham contrato milionário com a Capitol Records e tinham que cumpri-lo.
Centenas de matérias em jornais, especulações de fãs e mesmo livros foram surgindo sustentando a versão da morte de Paul. As pessoas que acreditavam nisso se basearam em centenas de pistas que supostamente haviam sido deixadas de propósito pelos outros Beatles nas letras das músicas, nas capas dos discos e nos filmes posteriores da banda.
Vou listar algumas dessas pistas, espalhadas em capas de discos e letras de músicas:
Rubber Soul (final de 1965)
John, na foto da capa, olha para baixo como se observasse uma sepultura. A sepultura de Paul…A fotografia da capa foi distorcida para que não se notasse que Paul havia sido substituído…
A letra de “Girl” diz “that a man must break his back to earn his day of leisure will she still believe it when he’s dead?”, (“um homem tem que trabalhar duro para ter seu dia de lazer, ela ainda acreditará nisso quando ele estiver morto?) uma citação à morte, o que se tornaria comum a partir daqui.
Tem mais… A letra de “I’m Looking through You” diz: “You don’t look different but you have changed, I’m looking through you, you’re not the same… you don’t sound different… you were above me but not today, the only difference is you’re down there…” (“Você não parece diferente mas você mudou, eu olho através de você, você não é mais o mesmo” se refere obviamente a Paul ter sido substituído por um sósia e não ser mais a mesma pessoa. “A única diferença é você estar embaixo” se refere ao fato de o verdadeiro Paul estar em uma sepultura).
A letra de “In My Life” diz: “some are dead and some are living” (“Alguns estão mortos e alguns estão vivos“, uma referência aos Beatles não estarem mais juntos).
Revolver (1966)
Ao invés de uma foto dos Beatles, pela primeira vez foi feito um desenho, para evitar que o sósia fosse desmascarado pela foto.
A música “Taxman” seria, na realidade, sobre um Taxidermista, pessoa responsável por empalhar animais mortos e fazer parecer que eles ainda estão vivos. Na letra há referências ao acidente de Paul (“if you drive a car”, “se você dirige um carro“) e ao fato de Paul estar morto (“if you get too cold”, “se você ficar frio“). A melhor pista é “my advice to those who die taxman..”, ou seja “meu conselho para aqueles que morrem, um taxidermista“ (para que o morto continue parecendo vivo).
Dr. Robert teria sido o médico responsável por tentar salvar Paul. Na letra consta: “you’re a new and better man” ou “você é um homem novo e melhor” se referindo ao novo Paul. “He does everything he can, Dr. Robert” ou “Dr Robert faz tudo o que pode” se refere ao fato de Dr. Robert ter feito todo o possível para tentar salvar Paul.
(A canção contém várias referências às drogas, incluindo o fato de que traficantes de drogas às vezes eram chamados de ‘doctors’ (doutores) na gíria inglesa. Os Beatles eram frequentemente acusados de usarem referências às drogas em suas músicas, apesar de eles negarem fazê-lo intencionalmente; ironicamente, as referências nessa música são muito pouco percebidas. John disse que o ‘Doutor Robert’ na verdade era ele mesmo: “Eu era o único que carregava todas as pílulas nas excursões… nos primeiros dias”. No entanto, foi especulado que o Doutor Robert na vida real era o Doutor Robert Freymann, que supria “grande quantidade de anfetamina para o pessoal”).
Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967)
Na capa do disco, há um arranjo floral funerário que lembra seu baixo Hofner, assim como um “P”, de Paul.
Segundo alguns, o sósia de Paul seria Billy Shears, que aparece na capa. Outra referência é o verso: “He he blew his mind out in a car… he didn’t notice that the lights had changed” (“Ele arrebentou a cabeça num carro… não percebeu que o sinal havia mudado”) na música “A Day in the Life”.
(Quanto à letra de “A Day In The Life”, Lennon compôs a música após ler a notícia da morte do jovem socialite Tara Browne, herdeiro da cervejaria Guinness, de 21 anos, morto em 18 de dezembro de 1966. John estava tocando piano em sua casa quando leu a notícia da morte de Browne no jornal Daily Mail. Tara Browne estava dirigindo com sua namorada, a modelo Suki Potier, no seu Lotus Elan através da South Kensington em alta velocidade, coisa de 170km/h. Ele não conseguiu ver a luz do sinal de trânsito e prosseguiu através da esquina da Redcliffe Square com a Redcliffe Gardens, colidindo com um caminhão estacionado, e morreu no dia seguinte).
Na capa do disco, pode-se ser BE AT LESO, “fique em Leso”, o local do sepultamento de Paul, na ilha de Leso… E tem a mão espalmada acima da cabeça do Paul (ou do sósia!)… Nos sulcos finais da última faixa do LP, e girando ao contrário, ouvia-se claramente a frase: ” Paul McCartney is dead to” (Paul McCartney está morto sim).
Na foto da bateria, se você colocar um espelho horizontalmente cortando a frase “Lonely Hearts” e olhar a combinação da parte de cima das letras com o reflexo surge a frase “one he die”, referindo-se à morte de um dos Beatles.
Calma, ainda tem mais! Os fãs eram criativos!
Magical Mystery Tour (1967)
Paul está vestido de leão marinho, um símbolo da morte em algumas culturas (er… será?) . No livro que vinha junto com o disco, em sua versão original, havia uma foto dos Beatles, cada um com uma rosa na lapela. Todos tinham rosas vermelhas, a não ser Paul, que usava um cravo preto ( isso aparece no vídeo de “Your Mother Should Know”, também).
Ao final de “All You Need Is Love”, você pode ouvir John dizendo algo semelhante a “yes! he is dead!” O que Lennon realmente fala é “Yesterday”, referindo-se à tradicional canção da primeira fase dos Fab Four.
“Magical Mystery Tour” seria a jornada que todos os fãs de Paul iriam percorrer para decifrar o enigma de sua morte.
Abbey Road (1969)
Na capa, John, de branco, seria o padre. Ringo, o agente funerário (de preto), e George, o coveiro (de calças jeans surradas). Na sessão de fotos, fazia tanto calor que Paul resolveu tirar os tênis ou sapatos, não sei o que ele usava… Como na Inglaterra seria costume enterrar os mortos descalços, isso contribuiu para a boataria.
A placa do fusca branco estacionado na rua é “LMW” referindo se as iniciais de “Linda McCartney Widow” ou “Linda McCartney Viúva” e abaixo o “281F”, supostamente referindo-se ao fato de que McCartney teria 28 anos se (if em inglês) estivesse vivo.
Na letra de “Come Together“, “one and one and one is three” ou “um mais um mais um são três“, referência aos três Beatles restantes, ou seja só o John, George e Ringo.
Na contracapa, ao lado direito da palavra Beatles, uma imagem feita de luzes e sombras aparece. Trata-se de uma caveira, claramente, com dois olhos e boca e do lado esquerdo há 8 pontos formando o número 3 (sendo então “3 Beatles”)…
É mole? Os Beatles sempre negaram qualquer envolvimento ou colaboração com os boatos.
Eu era moleque, na época, e embarquei nessa genial estratégia de marketing, comprando todos os discos e revistas e jornais que podia, para acompanhar as notícias e as novas pistas, que surgiam a toda hora.
Acho que a pista mais famosa talvez tenha sido em “Strawberry Fields Forever”, onde Lennon, ao final, diz “I Buried Paul” (Eu enterrei Paul). Anos mais tarde, Lennon revelou que na realidade a frase era “Cranberry Sauce”, o nome de um molho usado para temperar aves, como o peru…
Fontes:
Wikipedia
guiadoscuriosos.uol.com.br
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