Quem vive no Brasil – ou mesmo os brasileiros que estão fora do país, mas acompanham a nossa situação – sabe do que estou falando… Há uma crise sem precedentes, uma completa falta de ética e de honestidade de nossos governantes, há uma falência geral do Estado, um desemprego galopante, miséria agravada… Além de baderna generalizada, vandalismo, devastação sem igual e uma ignorância monumental que atinge tanto a “zelite” quanto os mais pobres.
É a mais perfeita descrição do inferno. E me fez lembrar do “Inferno” descrito por Dante Alighieri… Quer comparar? Pois bem, faremos uma viagenzinha pelo lugar que ele descreveu e confira se não tem muito a ver com o Brasil atual!
A Divina Comédia é com certeza um dos maiores poemas já escritos, não só por conter em sua estrutura 100 cantos e 14.233 versos, mas por ter sido fonte de inspiração para grandes nomes da arte, resultando em dezenas de obras baseadas na viagem de Dante Alighieri pelo Inferno, Purgatório e Paraíso.
Uma dessas obras é o chamado “Mapa do Inferno”, de Sandro Botticelli, e retrata os Nove Círculos concêntricos descritos no poema, com todo o sofrimento dos que tiveram esse como seu destino final.
Quem foi Dante?
Dante Alighieri nasceu em Florença, na Itália, em maio de 1265; era escritor, poeta, político, e suas inúmeras obras lhe renderam o título de “Il sommo poeta”. Mas Dante não é lembrado apenas por ter redigido uma das obras-primas da literatura universal. Sua paixão pela jovem Beatriz Portinari deixou grandes marcas na sua história, estando ela presente na “Divina Comédia” como sua guia pelo que equivale à terceira e última parte do poema, o “Paraíso”, além de ter sido uma de suas grandes fontes de inspiração para outros poemas. Dante foi exilado de sua amada Florença e faleceu em Ravena no ano de 1321.

Agora, vamos dar início ao nosso passeio pelos Nove Círculos por onde Dante andou guiado pelo seu mestre, o poeta Virgílio. O Inferno descrito por Dante está em forma de um funil, que segue em direção ao centro da terra, onde Lúcifer está à espera. Em cada círculo, são punidos pecados distintos, de acordo com sua gravidade. Os pecados menos graves são punidos nos primeiros círculos e os mais graves, nos últimos.
E lá vamos nós…. “Deixe toda esperança, ó vós que entrais”.
O primeiro círculo – o Limbo, é destinado aos pagãos virtuosos e aos não batizados, àqueles que morreram antes da vinda de Jesus Cristo, e suas almas vagam pela mais completa escuridão, o que representa a não iluminação daqueles que não conheceram o Evangelho e seus ensinamentos.
No segundo círculo – Vale dos Ventos, encontra-se a sala do julgamento, é lá que o juiz do inferno, chamado Minos, ouve a confissão dos mortos e os destina a um dos nove círculos. Ele faz isso enrolando sua enorme cauda envolta do corpo, cada volta representando um círculo abaixo. Nesse mesmo círculo estão aqueles que cometeram o pecado da luxúria, que são atormentados por furacões e ventanias representando os vícios da carne.

No terceiro círculo – Lago da Lama, encontram-se os gulosos, atolados numa lama suja, e são punidos ao ficarem prostrados debaixo de uma forte chuva de granizo, água e neve, sendo arranhados, esfolados e dilacerados por um enorme cão de três cabeças chamado Cérbero, que retrata o apetite sem fim. O lugar ideal para os políticos brasileiros, em sua maioria…

O quarto círculo – Colinas de Rocha, é o destino dos pródigos e avarentos, que possuem como punição rolar grandes pesos, que representam as suas riquezas e estão fadados a trocarem injúrias entre si.
O quinto círculo – Rio Estige, abriga os acusados de ira, que ficam amontoados em um lago formado de água e sangue borbulhante, batendo-se e torturando-se. No fundo do Estige, estão os rancorosos que não demonstraram sua ira e permanecem proibidos de subir à superfície.
Sexto círculo – Cemitério de Fogo, lugar dos que em vida foram hereges, os que não acreditaram na existência de Deus e de Jesus como seu Filho. A punição que eles recebem é o sepultamento em túmulos abertos, de onde sai fogo (o que nos lembra a sentença dada aos condenados por heresia pela Igreja, que eram queimados em fogueiras).
O sétimo círculo – Vale do Flegetonte é o destino dos que praticam violência. Esse círculo é dividido em três vales:
No primeiro vale (Vale do Rio Flegetonte), estão as almas dos que foram violentos contra o próximo, e aqui eles permanecem mergulhados em um rio feito com o sangue dos que eles oprimiram. Na margem do rio ficam o Minotauro de Creta e centauros, que atiram setas nas almas que se erguem do sangue;
No segundo vale (Vale da Floresta dos Suicidas) estão os que praticaram violência contra si mesmo, que se transformam em árvores sombrias e retorcidas;
No terceiro vale (Vale do Deserto Abominável), estão os que praticam violência contra Deus, contra a natureza e contra a arte, e são condenados a permanecer em um deserto de areia quente, onde chovem chamas de fogo, um lugar estéril e sem vida, contrário ao mundo criado por Deus.

O oitavo círculo – Malebolge, é dividido em dez fossos, onde são punidos diversos pecados:
No primeiro fosso estão os rufiões e sedutores, açoitados continuamente pelos demônios, que os obrigam assim a cumprir os seus desejos;
No segundo, estão os aduladores e lisonjeiros, imersos em fezes e esterco, que representam a sujeira que deixaram no mundo, resultado do proveito que tiravam dos medos e desejos dos outros e das falsas palavras proferidas;
O terceiro é destino dos simoníacos, enterrados de cabeça para baixo e com as pernas sendo queimadas por chamas;
No quarto, encontram-se os adivinhos, que como punição têm suas cabeças voltadas para as costas, impedindo-os de olhar pra frente;
No quinto fosso estão os corruptos, submersos em um lago de piche fervente;
No sexto são punidos os hipócritas, vestidos em pesadas capas de chumbo dourado;
No sétimo estão os ladrões, que são picados por serpentes que os atravessam e os desintegram;
No oitavo são castigados os maus conselheiros, aqui envolvidos por infinitas chamas, e padecem ardendo;
O nono fosso abriga os que semearam a discórdia, e são então esfaqueados e mutilados por demônios que lhes arrancam o que representa a discórdia semeada;
No décimo fosso, os falsários são punidos com úlceras fétidas e diversas enfermidades…
(pensando melhor, é aqui que deveriam ficar os nossos políticos!)
O nono e último círculo – Lago Cócite, cujo pavimento é formado por gelo, é onde estão presos os traidores. Este círculo é dividido em quatro esferas:
A primeira esfera é a de Caína, onde são punidos os que traem seus parentes, que ficam apenas com o tórax e a cabeça fora do gelo. O nome Caína faz referência a Caim, que matou seu irmão Abel.
Na segunda esfera, a esfera de Antenora, estão os que traíram sua pátria, aqui apenas as cabeças ficam fora do gelo;
A terceira esfera, chamada esfera da Ptoloméia ou Toloméia, é onde os traidores de seus convidados são punidos, ficando apenas com o rosto exposto e, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem os seus olhos;
A última esfera é a esfera Judeca, e seu nome faz referência ao traidor mais conhecido, Judas Iscariotes; e é o destino dos que traíram seus senhores e benfeitores, permanecendo completamente submersos no lago de gelo, conscientes. No meio da esfera está Lucífer que, com suas três cabeças, prende de um lado Judas, e do outro Brutus e Cássio, responsáveis pela morte de Júlio César.

Ao passar por todos os círculos, valas, fossos e esferas, Dante e Virgílio chegam ao centro da Terra e é lá que começa a subida em direção à saída, em busca do céu estrelado, da luz no fim do túnel, encerrando assim a viagem pelo temido inferno.
Que tal? Com que se parece essa descrição?
Fonte:
Christine Alencar
laparola.com.br
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