Notívago, Obama passa horas sozinho na Casa Branca

Os e-mails chegam tarde, muitas vezes depois da 1h, digitados em um BlackBerry seguro, de um endereço eletrônico que poucas pessoas conhecem. Os destinatários exaustos sabem que, mais uma vez, o chefe ainda não foi dormir.

As interrupções tardias do presidente Barack Obama podem ser perguntas em termos precisos sobre memorandos que ele leu. Às vezes são provocações porque o time do destinatário simplesmente perdeu. No mês passado foi um e-mail à 0h30 para Ben Rhodes, o vice-assessor de Segurança Nacional, e Denis McDonough, o chefe de gabinete da Casa Branca, dizendo-lhes que ele tinha acabado de revisar o esboço feito pelo redator de discursos dos comentários presidenciais para aquela manhã.

Obama havia passado três horas rabiscando a mão em um bloco amarelo uma irritada condenação à reação de Donald Trump ao ataque em Orlando, na Flórida, e disse a seus assessores que poderiam pegar sua revisão no escritório da Casa Branca quando chegassem para trabalhar.

Obama chama a si mesmo de “um homem noturno”, e como presidente passou a considerar as longas e solitárias horas após anoitecer como tão essenciais quanto seu tempo no Salão Oval. Quase todas as noites em que está na Casa Branca, Obama janta às 18h30 com sua mulher e suas filhas e então se retira para a Sala de Tratados, seu escritório particular no mesmo corredor de seu quarto, no segundo andar da residência na Casa Branca.

Lá, segundo seus assessores mais próximos, passa de quatro a cinco horas praticamente sozinho. Ele revisa discursos, lê a pilha de comunicados entregues às 8h pelo secretário de Gabinete do Conselho de Segurança Nacional, lê dez cartas de americanos escolhidas diariamente por sua equipe.

O presidente também assiste à ESPN, lê romances ou joga Words With Friends em seu iPad. Michelle Obama às vezes aparece, mas ela vai dormir antes do presidente, que fica acordado até tão tarde que mal consegue dormir cinco horas por noite. Para Obama, o tempo sozinho se tornou mais importante. O presidente George W. Bush, que levantava cedo, ia dormir às 22h. O presidente Bill Clinton ficava acordado até tarde, como Obama, mas passava o tempo em longas conversas ao telefone com amigos e aliados políticos, obrigando os assessores a verificar os registros de ligações da Casa Branca de manhã para saber com quem o presidente havia falado na noite anterior.

Quando Obama chegou à Casa Branca pela primeira vez, sua rotina após o jantar começava por volta das 19h15 na Sala de Jogos, no terceiro andar da residência.

Lá, em uma velha mesa de bilhar, Obama e Sam Kass, então cozinheiro pessoal da família Obama, passavam 45 minutos jogando.

Naquele tempo, o presidente dava sequência ao bilhar com a rotina de pôr as filhas na cama para dormir. Hoje que as duas estão adolescentes, Obama vai diretamente para a Sala de Tratados, cujo nome vem dos muitos documentos históricos que foram assinados ali, incluindo o protocolo de paz que terminou com a Guerra Hispano-Americana em 1898.

Por volta das 20h, ele recebe o livro de briefings diários do presidente, encadernado em couro —um grande volume acompanhado de uma grande pilha de pastas com memorandos e documentos de todo o governo, que exigem a atenção do presidente. “Uma quantidade insana de papel”, disse Kass.

“Ele lê todos os papéis que recebe”, disse Tom Donilon, que foi assessor de Segurança Nacional do presidente de 2010 a 2013. “Você chega de manhã e lá estão perguntas, anotações, decisões.”

Nem tudo o que acontece na Sala de Tratados é trabalho. Além de jogar Words With Friends, um jogo online parecido com palavras-cruzadas, Obama aumenta o volume da televisão para os grandes jogos esportivos.

O presidente também usa o tempo para acompanhar as notícias, folhear “The New York Times”, “The Washington Post” e “The Wall Street Journal” em seu iPad ou assistir à TV a cabo. Obama e sua mulher também são fãs de seriados na TV, como “Boardwalk Empire”, “Game of Thrones” e “Breaking Bad”. Nas noites de sexta-feira —noite de cinema na Casa Branca—, Obama e sua família costumam ficar no Cinema Familiar, uma sala de projeção com 40 lugares no primeiro andar da Ala Leste, assistindo a filmes inéditos que escolhem e são enviados pela Associação de Produtores de Cinema da América.

Agora Obama, que terá mais seis meses de noites solitárias na Sala de Tratados, parece aguardar o fim. Quando sair da Casa Branca, disse ele em março em uma oração no café da manhã de Páscoa na Sala de Jantar de Estado, “vou tirar três ou quatro meses só para dormir”.

 

Fonte:

The New York Times


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