Era muito comum haver exposições de “povos exóticos” na Europa depois que as grandes navegações atingiram regiões desconhecidas no planeta. Por exemplo, uma das primeiras exposições ocorreu quando os exploradores levaram os índios tupinambás à França, em 1550, para desfilar diante do rei Henrique II em Rouen.
Pessoas com deformações físicas e mentais também serviam de atração para as cortes europeias na época.
No início do século XIX, a exibição de “selvagens” deixou de ser reservada às elites, com o surgimento de “shows étnicos”, que ganharam força com o desenvolvimento da antropologia e a conquista colonial. Londres, que apresentou uma exposição de índios brasileiros Botocudos em 1817, tornou-se a “capital dos espetáculos étnicos”, seguida pela França, Alemanha e Estados Unidos.
A exibição em Londres, em 1810, e em Paris, em 1815, da sul-africana Saartje Baartman, conhecida como “Vênus Hotentote” (nome pelo qual sua tribo era conhecida à época), que tinha nádegas proeminentes, marcou uma reviravolta nesse tipo de apresentação.
Indústria de espetáculos
Esses “shows” se profissionalizaram com o interesse cada vez maior do público, tornando-se uma indústria de espetáculos de massa, com turnês internacionais. Em Paris, um “vilarejo” africano foi montado próximo à Torre Eiffel em 1895, com apresentações sensacionalistas de mulheres quase nuas e homens tidos como canibais.
Esses espetáculos de “diversão” serviam também como instrumento de propaganda, para legitimar a colonização dos povos considerados inferiores e primitivos. O apogeu dessas exibições ocorreu entre 1890 e os anos 1930.
Depois disso, os “shows étnicos” deixaram de existir por razões diversas: falta de interesse do público, surgimento do cinema e desejo das potências de excluir o “selvagem” da propaganda de colonização. A última apresentação desse tipo foi realizada em Bruxelas, em 1958. Um “vilarejo congolês” teve de ser fechado devido às críticas na época.
Recentemente, foi organizada uma exposição no museu do Quai Branly, em Paris, Exibições – A Invenção do Selvagem, relembrando que esses “espetáculos”, que tinham o objetivo de entreter os espectadores, influenciaram o desenvolvimento de ideias racistas que perduram até hoje.

“A descoberta dos zoológicos humanos me permitiu entender melhor por que certos pensamentos racistas ainda existem na nossa sociedade”, informou o ex-jogador da seleção francesa de futebol Lilian Thuram, que foi um dos curadores da mostra.
Thuram, campeão da Copa do Mundo de Futebol de 1998 pela França, criou uma fundação que luta contra o racismo. Ele narrava os textos ouvidos no guia de áudio da exposição. “É difícil acreditar, mas o bisavô de Christian Karembeu (também ex-jogador da seleção francesa) foi exibido em uma jaula como canibal em 1931, em Paris”, disse Thuram.
A exposição foi fruto das pesquisas realizadas para o livro Zoológicos Humanos, do historiador francês Pascal Blanchard e também curador da mostra.
Medição de crânios
A exposição reunia cerca de 600 obras, entre fotos e filmes de arquivo, além de pôsteres de “espetáculos” e objetos usados por cientistas no século 19, como instrumentos para medir os crânios.
Nesse período, desenvolveram-se noções sobre a raça e o conceito de hierarquia racial, com teses de que os africanos seriam o elo que faltava entre o macaco e os homens brancos ocidentais, ou o “homem normal”, como consideravam os cientistas.






Segundo os organizadores da mostra, mais de 1 bilhão de pessoas assistiram aos espetáculos exóticos realizados entre 1800 e 1958…
Fonte:
BBC
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