Em 1º de julho de 1946, os americanos realizavam o primeiro de uma série de testes nucleares em um atol no Pacífico Sul. Quatro dias depois, um francês, Louis Réard, revelava, em Paris, um maiô “explosivo”. Tão explosivo que foi batizado com o nome da pequena ilha onde os testes atômicos foram realizados: Bikini, ou biquíni, em português.
“O biquíni: uma bomba anatômica” foi o slogan criado para a roupa de banho em duas peças. O modelo era vendido em um pacote do tamanho de uma grande caixa de fósforos. Réard, engenheiro automotivo cuja família possuía uma loja de lingerie, escolheu a piscina Molitor, local de Paris muito popular nos anos 30, para apresentar sua criação ao público, no dia 5 de julho de 1946.
Mas, enquanto hoje em dia o biquíni tem adeptas em todo o mundo, nenhuma modelo profissional quis usá-lo na época. A apresentação foi feita, então, pela dançarina de 19 anos Micheline Bernardini (na foto acima), que fazia shows no Cassino de Paris. Ela entrou para a história, uma vez que a criação francesa ocupou manchetes dos jornais de todo o mundo e causou um grande escândalo.
Sob pressão da Igreja Católica, os governos italiano, espanhol e belga proibiram a venda da ousada peça. Na França, curiosamente, foi permitida nas praias do Mediterrâneo, mas proibida nas do Atlântico. Vai entender…
O biquíni de Brigitte Bardot
No pós-guerra, apesar de o biquíni já existir há algum tempo, a calcinha de cintura alta foi a favorita das mulheres, como mostram as imagens de pin-ups ou fotos de atrizes norte-americanas, com Marilyn Monroe na liderança.

Após o lançamento em 1946, o biquíni entrou em baixa até 1953, quando outra bomba estourou, de novo na França, e desta vez durante o Festival de Cannes: Brigitte Bardot. A atriz francesa causou furor ao posar para os fotógrafos com um biquíni branco com flores na praia do hotel Carlton.

A partir daí, as mulheres passaram a gostar da ideia de exibir seus corpos bronzeados em roupas de praia cada vez menores. Ao contrário do começo do século passado, quando as pessoas iam à praia completamente vestidas!
Em 1908, a australiana Annette Kellerman até tentou cruzar o Canal da Mancha a nado, usando um tipo de maiô , mas, foi detida por indecência enquanto treinava em Boston. Foi a nadadora a responsável pela popularização dessa roupa de praia.
Nos anos 1920, o bronzeado entrou na moda e por isso mesmo as peças diminuíram, decotes, braços de fora e pernas ganharam destaque, mas não foi tão fácil colocar as pernocas de fora. As mulheres não podiam mostrar mais de 15 cm de coxa nas areias, e fiscais com fita métrica controlavam o tamanho dos trajes de banho.

Nos anos 1930 surge o latéx e outras fibras sintéticas, e o maiô ganha um novo formato, mais justo ao corpo, com ombros e costas de fora e praticamente a perna toda à mostra. As atrizes de Hollywood, como Jean Harlow, ditavam moda e usavam maiô inteiro e também um modelo de duas peças, mas eram proibidas de mostrar umbiguinhos na telona.
Quem liberou os umbiguinhos dessa prisão foi o já mencionado biquíni, de Rèard.
Nos anos 1960, a Lycra chega ao mercado, deixando a peça com secagem super rápida e possibilitando uma diversidade maior de estampas e modelos. O biquíni branco com cinto, do filme de 007 “O Satânico Dr. No”, vira referência de moda na época.
Mas o biquíni nunca foi uma unanimidade. Governos e mesmo artistas não gostaram nada da criação do francês. No primeiro concurso de Miss Mundo, em 1951, as candidatas de vários países desfilaram com comportados biquínis. Mas, no ano seguinte, a organização baniu seu uso depois de muitas reclamações de representantes de países mais conservadores. A regra vale até hoje: as misses usam apenas maiôs.
O biquíni proibido
Em 1961, o então Presidente da República, Jânio Quadros, proibiu o uso de biquínis em praias e piscinas do território nacional. Motivo? Ele os considerou-os “indecentes”. Só que a proibição não durou muito e, no ano seguinte, Helô Pinheiro apareceu de biquíni. Há quem diga que ela foi a musa inspiradora da música “Garota de Ipanema”, mas há controvérsias.
Nos anos 1980 e 1990, foi a vez dos maiôs e biquínis metalizados e fluorescentes. E surgiram os modelos asa delta e fio dental. Diz a lenda que, em certo momento, os biquínis artesanais de crochê foram moda mas, como eles pesavam na água depois de molhados, as brasileiras criaram o hábito de enrolá-los nas laterais – e isso teria dado origem ao asa delta.
Hoje, ir à praia não se limita apenas ao traje de banho. Temos acessórios, saídas de praia, shorts, tolhas, protetores solares, chinelos, óculos, vestidos. Uma indústria voltada a esse segmento.
Depois de 2000, muitas grifes especializadas surgiram, e, com isso, pesquisas de modelagens que beneficiem o corpo e tecidos mais tecnológicos passaram a ser incorporadas às novas coleções.
E tudo começou com uma bomba atômica!
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