A invenção desse homem mata mais do que todas as guerras, todos os acidentes de carro e todas as catástrofes da natureza. Porque as mortes provocadas por sua invenção somam mais de 1 milhão de pessoas por ano!

James Buchanan Duke teve simplesmente a ideia de inventar uma máquina de fazer cigarros! Claro, não foi ele quem inventou o cigarro. Na verdade, o tabaco enrolado com papel já existia há mais de um século, e o hábito de mascar fumo era disseminado deste tempos imemoriais. Mas o que ele criou transformou-o no responsável pelo fenômeno do cigarro no século XX.
O câncer de pulmão era quase inexistente antes desse fenômeno. O cirurgião americano Alton Ochsner lembra que, quando ainda era estudante de medicina em 1919, sua turma foi chamada para assistir a uma autópsia de uma vítima de câncer de pulmão. Na época, a doença era tão rara que os estudantes acharam que não teriam outra chance de testemunhar algo parecido!
Em 1880, aos 24 anos, Duke entrou em um nicho da indústria do tabaco – os cigarros já enrolados. Dois anos depois, percebeu uma chance de ganhar dinheiro. Ele começou a trabalhar com um jovem mecânico chamado James Bonsack, para construir uma máquina para fabricar cigarros. Duke estava convencido que as pessoas estariam dispostas a fumar os cigarros perfeitamente simétricos produzidos pela máquina.
E foi esse equipamento que revolucionou a indústria.
O plano da máquina que eles construíram, e que fazia 120 mil cigarros por dia! Hoje, se produz 16 mil cigarros… Por minuto!
A máquina produzia essencialmente um cigarro comprido que era depois cortado em pedaços menores e do mesmo comprimento. Mas, como as pontas ficavam abertas, o tabaco precisava ser umedecido, para ficar rígido e não cair do cigarro. Isso era feito com ajuda de aditivos químicos, como glicerina, açúcar e melaço.
A produção era excelente, muito maior do que os enrolados manualmente, que era de 200 cigarros por turno, por funcionária. O problema é que os 120 mil cigarros diários que saíam da máquina representavam um quinto do consumo nos Estados Unidos. Quer dizer, Duke produzia muito mais cigarros do que conseguia vender. E foi aí que ele teve outra ideia fantástica.
Fazer marketing e publicidade!
Duke patrocinou corridas, distribuiu cigarros gratuitamente em concursos de beleza e colocou anúncios nas revistas da época.
Anúncio de cigarro de 1900, na cola dos primeiros anúncios criados por Duke.
Ele também percebeu que a inclusão de figurinhas colecionáveis nas carteiras de cigarro era tão importante quanto trabalhar na qualidade do produto. Em 1889, gastou US$ 800 mil em marketing (ou US$ 25 milhões, em valores de hoje em dia). O sucesso de Duke confirmou o que ele suspeitava, que as pessoas gostavam dos cigarros feitos pela máquina. Eles tinham aparência mais moderna e higiênica. Uma das campanhas enfatizava o fato de que cigarros manuais eram feitos com contato da mão e da saliva de outras pessoas.
Mas, apesar de o número de fumantes ter quadruplicado nos 15 anos até 1900, o mercado ainda era um nicho, já que a maioria das pessoas mascava tabaco ou consumia cachimbos ou charutos. Duke – que também era fumante – viu o potencial competitivo dos cigarros em relação aos demais produtos. Uma das vantagens era a facilidade para acendê-los, ao contrário dos cachimbos. Os cigarros chegaram ainda a ser promovidos como benéficos à saúde. Eles eram listados nas enciclopédias farmacêuticas até 1906 e indicados por médicos para casos de tosse, asma, resfriado e tuberculose – uma doença que é agravada pelo fumo.
No começo dos anos 1900, houve um movimento antitabagismo, mas ele estava mais relacionado à moralidade do que à saúde. O crescimento no número de crianças e mulheres fumantes era parte de um debate sobre o declínio moral da sociedade. Os cigarros foram proibidos em 16 Estados americanos entre 1890 e 1927. E a atenção de Duke voltou-se para o exterior.
Em 1902, ele formou a empresa britânica British American Tobacco. As embalagens e o marketing foram ajustados para mercados consumidores diferentes, mas o produto era basicamente o mesmo. Aquilo que chamamos hoje de globalização foi antecipado por Duke há mais de um século. A partir de então, todos os demais fabricantes passaram a usar a mesma estratégia (produção industrial de cigarros e propaganda maciça) e a indústria do cigarro conquistou todos os mercados do mundo.
Fumar era chique, charmoso, coisa de astros do cinema, esportistas e médicos, e ajudava a emagrecer.
Só que um elo direto do cigarro com câncer de pulmão não foi encontrado até 1957 na Grã-Bretanha e 1964 nos Estados Unidos.
No entanto, se pensarmos bem, Duke não pode ser responsabilizado sozinho, afinal, ninguém é obrigado a fumar. Hoje, se a ideia for apontar o dedo, é preciso considerar toda a cadeia produtiva, desde os agricultores até os executivos da indústria, passando pelos designers que criam as embalagens e os donos dos canais de varejo. É uma discussão que envolve a saúde das pessoas, mas que passa também por milhões de empregos e pela receita gerada pelos impostos. Uma discussão ética, moral, de sustentabilidade, de emprego e trabalho.
Acho que a única certeza cristalina mesmo é que o cigarro faz mal à saúde!
Mas James Duke tem uma importância que, à parte as consequências de sua invenção, é enorme: sua visão pioneira do mercado, do marketing, do uso da publicidade inspirado pelo conhecimento da psicologia humana.
Acredito que podemos usar suas lições em algo que traga mais benefícios às pessoas.
Fonte: BBC Brasil
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