Outro dia, assisti pela enésima vez a obra-prima de Francis Ford Coppola, “O Poderoso Chefão”.
É uma obra densa, brilhante, onde tudo se combina perfeitamente numa química raramente conseguida: atores, roteiro, direção, cenografia, trilha sonora, cenários e locações… Mas o ponto aqui não é falar sobre os filmes, e sim sobre um evento retratado na parte 3 da saga e que mostra o assassinato do Papa. Para quem não se lembra do que aconteceu, farei um breve resumo:
No filme, o cardeal Lamberto é eleito o novo pontífice com o nome de João Paulo I, e imediatamente ordena uma investigação nas atividades do Banco do Vaticano, além de exigir uma reunião com o diretor executivo do Banco. Esse homem e outros envolvidos em corrupção e desvio de dinheiro, como o cardeal Lucchesi, tramam a morte do novo Para, envenenando seu chá.

A inspiração para essa sequência veio das inúmeras teorias da conspiração que cercaram a morte súbita do verdadeiro Papa João Paulo I, Albino Luciani. Assim como no filme, Luciani foi descoberto morto em sua cama em 1978, apenas 33 dias depois de sua eleição para o pontificado. A mais recorrente dessas teorias era aquela que garantia que ele havia sido morto por planejar investigar e reformar a estrutura do Banco do Vaticano…
Pois bem, isso me voltou à mente por conta das recentes manifestações no Papa Francisco, entre elas a sua intenção de reformar diversas instituições do Vaticano e sua mensagem para a Cúria, acusando os cardeais de sofrerem de “Alzheimer espiritual”, dentre outras “doenças”. Fiquei pensando: “E se o Papa Chico for vítima de uma conspiração? Afinal, ele está mexendo num vespeiro, como fez seu antecessor…”
Fui investigar a teoria conspiratória mais difundida sobre a morte de João Paulo I, a do envenenamento, imaginando que seria mais parecida com um roteiro rocambolesco de “Arquivo X”, mas ela, de fato, parece bem fundamentada. Vejam o que apurei:

A “pergunta que não quer calar” desde a morte daquele homem de 65 anos é: que interesses esse Papa teria ameaçado contrariar?
Segundo os adeptos da teoria conspiratória, Albino Luciani teria sido eleito pelos conservadores da Cúria simplesmente para cumprir ordens dos poderosos cardeais. Mas, ao demonstrar carisma, liderança e, principalmente, disposição para reformar os quadros e interferir no comando do Banco do Vaticano, teria despertado o receio desse grupo de prelados.
O diretor executivo do Banco do Vaticano, Paul Marcinkus, seria um dos primeiros prejudicados por João Paulo I. Sua exoneração traria à tona extensas negociatas com a Máfia Italiana e a Maçonaria. Marcinkus era notoriamente próximo do presidente do Banco Ambrosiano de Milão, Roberto Calvi, que por sua vez era amigo do advogado e financista siciliano Michele Sindona. Os três mantinham relações com Lício Gelli, outro financista que controlava a loja maçônica P2, a qual teria se infiltrado no Vaticano.

Existem diversas contradições que envolvem a morte do Papa e que até hoje não foram esclarecidas. A mais intrigante é sobre o horário em que um carro do Vaticano apanhou em suas casas os embalsamadores Renato e Ernesto Signoracci: às 5h da manhã. Acontece que há duas versões oficiais sobre o horário em que o corpo foi encontrado: uma, às 5h30. Outra, às 4h30. A causa oficial da morte também nunca foi esclarecida. Segundo alegou o Vaticano, as leis canônicas impediam que a autópsia fosse realizada.
A versão oficial da Igreja diz que o corpo do Papa teria sido encontrado pela freira Vincenza, que o servia havia 18 anos e que sempre lhe deixava o café todas as manhãs. Naquele fatídico dia, no entanto, ela ficara espantada com o fato de o Papa não ter respondido ao seu “Buongiorno, Santo Padre” (Bom-dia, Santo Pai); desde os tempos de padre em Veneza, ele nunca dormira além do horário. Notando uma luz acesa por trás da porta, ela entrou nos aposentos do Papa e encontrou-o de pijama, morto na cama, com expressão agonizante. Seus pertences pessoais foram de imediato removidos pelo cardeal Jean Villot, então secretário de Estado do Vaticano e Camerlengo, e que também estaria envolvido nos escândalos do Banco. Entre esses pertences que sumiram, estavam as sandálias, supostamente manchadas com vômito – um sintoma de envenenamento.

A digitalina (veneno extraído da planta com o mesmo nome) é citada como a droga usada para pôr fim ao pontificado de João Paulo I. Essa toxina demora algumas horas para fazer efeito e uma dose mínima, acrescentada à comida ou à bebida do papa, passaria despercebida e seria suficiente para levar ao óbito. E teria sido muito fácil, para alguém que conhecesse os acessos à cidade do Vaticano, penetrar nos aposentos papais e cometer um crime dessa natureza.
Segundo o Vaticano, a morte do papa estaria “possivelmente associada com infarto do miocárdio”. Para alguns, João Paulo I teria sido vítima das terríveis pressões características de seu cargo, e que não tendo como suportá-las, veio a perecer. De todo modo, o camerlengo é o principal suspeito de ter cometido o envenenamento. Ou, pelo menos, de ter acobertado o suposto crime. Segundo investigações posteriores, os passos do cardeal Jean Villot nas horas que se seguiram à morte de João Paulo I foram altamente suspeitos.

Como foi dito acima, diversos objetos pessoais do Papa sumiram, levados por Villot. Mais tarde, um Dr. Buzzonati (não o Professor Fontana, chefe do serviço médico do Vaticano) chegou e confirmou a morte, sem fornecer um atestado de óbito. O Dr. Buzzonati atribuiu a morte a um infarto agudo do miocárdio (ataque de coração). Por volta das 6 e meia da manhã, uma hora e meia depois dos embalsamadores chegarem, Villot começou a dar a notícia aos demais cardeais.
Villot fez os acertos para que o embalsamamento se fizesse naquela manhã, e insistiu que nada de sangue fosse drenado do corpo, e nenhum dos órgãos, tampouco, deveria ser removido. Sabe-se que uma pequena quantidade de sangue teria sido mais do que suficiente para que um perito médico estabelecesse a presença de qualquer substância venenosa…
No final daquela manhã, o apartamento do Papa estava limpo e todas as roupas, anotações e cartas foram levados.
Como as alegações e suspeitas de assassinato chamaram a atenção mundial, a Cúria iniciou uma campanha contra essas acusações, e a justificativa era de dar apoio às declarações de Villot, que foram:
“O que ocorreu foi um trágico acidente. O Papa inadvertidamente tomou uma overdose de seu medicamento. Se fosse feita uma autópsia, obviamente seria indicada esta fatal overdose. Ninguém acreditou que sua santidade não o havia feito acidentalmente. Alguns alegaram suicídio, por conta das pressões do papado. Concordou-se que não haveria uma autópsia, pelas leis canônicas.”
Assim, o álibi do Cardeal Villot foi que o Papa João Paulo I tomou uma overdose de seu próprio medicamento para pressão arterial (Effortil). Esse álibi intencionalmente deu lugar à especulação de suicídio, tirando a atenção da suposta verdadeira causa da morte de João Paulo I: haver sido envenenado por um membro da Secretaria de Estado (departamento do Cardeal Villot).
O que há por trás dos muros do Vaticano?
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