Este é um assunto deveras polêmico.
Já faz algum tempo, os estudiosos culpam os bovinos flatulentos – e os porquinhos também – pelo aumento do buraco na camada de ozônio, provocando assim o aquecimento global. Um censo relativamente recente apontou que há no mundo mais de 1 bilhão de cabeças de gado (fico imaginando os recenseadores contando vaquinhas no interior de Goiás…).
Fico imaginando também esse 1 bilhão de vaquinhas liberando esses flatos diários enquanto pastam, emitindo toneladas de gás metano…
Recentemente, adicionou-se mais um vilão a essa equação: os vegetarianos. Um estudo realizado nos Estados Unidos (onde mais? Lá, eles fazem estudos sobre qualquer coisa!) revelou que o aumento de vegetarianos provocou, obviamente, uma queda drástica no consumo de carne. Portanto, há mais vaquinhas soltando suas bufas carregadas de gás metano e provocando a degradação ambiental.
É importante lembrar aqui que nossas amigas vaquinhas e seus maridos, os bois, soltam gases também pela boca. Quer dizer, além da bufa, temos que levar em conta os arrotos!
Por isso o drama é ainda mais terrível, porque achar maneiras de minimizar os efeitos das bufas e dos arrotos de bois e vacas pode ser mais difícil do que se imaginava, indica um novo estudo.
Esperava-se que, conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente – ou seja, com os animais ganhando o mesmo peso, mas consumindo menos comida–, seria reduzida a emissão de metano (CH4), o gás causador do efeito estufa produzido durante a digestão dos bichos.
Cientistas brasileiros descobriram, porém, que isso não acontece. Bois que engordam facilmente soltam tanto metano quando os comilões.
O estudo, coordenado por cientistas do Instituto de Zootecnia de São Paulo, sugere, portanto, que vai ser preciso intervir em outros aspectos da criação de bovinos do país para diminuir as emissões. É uma notícia ruim, porque, de maneira geral, o gado brasileiro não é conhecido por ser econômico em gases (seguiria ele o exemplo do homem? O ser humano exerce a atividade de liberar gases, em média, 6 a 20 vezes por dia).
Aparentemente, não, pois o fenômeno pode estar ligado à alimentação do rebanho, que é de qualidade relativamente pobre (rica em celulose) e levaria as bactérias do estômago dos bichos a trabalharem bastante e, assim, gerarem mais metano.
A coordenadora do estudo, Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, explica que o método para medir as emissões do gado brasileiro (animais da raça nelore) envolve, antes de mais nada, a colocação de cápsulas de SF6 (hexafluoreto de enxofre) no rúmen dos bichos (veja na ilustração acima).
Se as cápsulas estiverem funcionando direito, liberarão a substância num ritmo constante. O aparato de medição, que inclui um cabresto especial com um cano muito fino, vai sugando tanto o SF6 quanto o metano. Se a proporção de SF6 for a esperada, quer dizer que a medição está sendo feita corretamente. Esse cano desemboca num receptáculo de PVC, que guarda os gases que serão posteriormente analisados.
“A dieta dos nossos animais é muito mais fibrosa do que a dos bois nos EUA, por exemplo”, explica Maria Eugênia. “É possível que, no nosso contexto, os animais mais eficientes sejam aqueles cujo organismo ataca mais essas fibras, o que acabaria levando à maior produção de metano.”
Segundo a pesquisadora, isso não significa necessariamente que os animais mais eficientes não teriam nenhum efeito benéfico para o clima – ao consumir menos comida, por exemplo, eles poderiam contribuir para uma cadeia produtiva menos poluente, daí o interesse em entender o organismo deles para investir no melhoramento genético do rebanho.
O estudo, feito com a Embrapa e a Unesp de Jaboticabal, teve apoio da Fapesp e do CNPq.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas por que culpar só as vacas e os bois? Será que alguém já estou a emissão dos gases dos hipopótamos, por exemplo?
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