Sempre quis descobrir a origem de certas expressões da nossa língua, e ainda bem que diversos estudiosos, dentre eles o prof. Pasquale, fizeram esse trabalho. Veja só:
JURAR DE PÉS JUNTOS:
“Mãe, eu juro de pés juntos que não fui eu”.
A expressão teria surgido por conta das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado pra dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado pra expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.
MOTORISTA BARBEIRO:
“Nossa, que cara mais barbeiro!”
No século XIX, os barbeiros faziam não somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também tiravam dentes, cortavam calos, etc., e por não serem profissionais, seus serviços mal feitos geravam marcas. A partir daí, todo serviço mal feito era atribuído ao barbeiro, pela expressão “coisa de barbeiro”. Esse termo veio de Portugal, contudo a associação de “motorista barbeiro”, ou seja, um mau motorista, é tipicamente brasileira.
TIRAR O CAVALO DA CHUVA:
“Pode ir tirando seu cavalinho da chuva porque não vou deixar você sair hoje!”
No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia colocar o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “Pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.
DAR COM OS BURROS N’ÁGUA:
A expressão surgiu no período do Brasil colonial, onde tropeiros que escoavam a produção de ouro, cacau e café, precisavam ir da região Sul à Sudeste sobre burros e mulas. O fato era que muitas vezes esses burros, devido à falta de estradas adequadas, passavam por caminhos muito difíceis e regiões alagadas, onde os burros morriam afogados. Daí em diante, o termo passou a ser usado pra se referir a alguém que faz um grande esforço pra conseguir algum feito e não consegue ter sucesso naquilo.
PARA INGLÊS VER:
A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, assim, as leis eram criadas apenas “para inglês ver”. Daí surgiu o termo.
NHENHENHÉM:
Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os indígenas não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.
VAI TOMAR BANHO:
Em “Casa Grande & Senzala”, Gilberto Freyre analisa os hábitos de higiene dos índios versus os do colonizador português. Depois das Cruzadas, como corolário dos contatos comerciais, o europeu se contagiou de sífilis e de outras doenças transmissíveis e desenvolveu medo ao banho e horror à nudez, o que muito agradou à Igreja. Ora, o índio não conhecia a sífilis e se lavava da cabeça aos pés nos banhos de rio, além de usar folhas de árvore para limpar os bebês e lavar no rio as redes nas quais dormiam. Então, o cheiro exalado pelo corpo dos portugueses, abafado em roupas que não eram trocadas com frequência e raramente lavadas, aliado à falta de banho, causava repugnância aos índios. Então os índios, quando estavam fartos de receber ordens dos portugueses, mandavam que fossem “tomar banho”.
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE ATÉ QUE FURA:
Um de seus primeiros registros literários foi feito pelo escritor latino Ovídio ( 43 a .C.-18 d.C), autor de célebres livros como “A arte de amar “e “Metamorfoses”. Escreveu o poeta: “A água mole cava a pedra dura”. É tradição das culturas dos países em que a escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase para que sua memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, os portugueses e os brasileiros.
ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS
A expressão “onde Judas perdeu as botas” é usada para designar um lugar distante, desconhecido e inacessível. Existe uma história não comprovada que relata que após trair Jesus, Judas enforcou-se em uma árvore sem nada nos pés, já que havia posto o dinheiro que ganhara por entregar Jesus dentro de suas botas. Quando os soldados viram que Judas estava sem seus sapatos, saíram em busca dos mesmos e do dinheiro da traição. Nunca ninguém ficou sabendo se tais botas foram achadas. Acredita-se que foi assim que surgiu tal expressão.
DOR DE COTOVELO
A expressão “dor-de-cotovelo”, muito usada para se referir a alguém que sofreu uma decepção amorosa, tem sua origem na figura de uma pessoa sentada em um bar e com os cotovelos em cima do balcão, enquanto toma uma bebida e lamenta a má sorte no amor. Tipo “meu mundo caiu…”, “ninguém me ama…”. De tanto o apaixonado ficar com os cotovelos apoiados sobre balcão, eles deveriam doer. Esta é a ideia por trás da expressão.
ACABAR EM PIZZA
Uma das expressões mais usadas no meio político é “tudo acabou em pizza”, empregada quando algo errado é julgado sem que ninguém seja punido. O termo teria surgido no futebol. Na década de 1960, alguns cartolas palmeirenses estariam reunidos para resolver alguns problemas e, durante 14 horas seguidas de brigas e discussões, ficaram com muita fome. Assim, todos foram a uma pizzaria, tomaram muito chope e pediram 18 pizzas grandes. Depois disso, simplesmente foram para casa e a paz reinou de forma absoluta. Após esse episódio, o jornalista Milton Peruzzi, que trabalhava num jornal muito popular na época, A Gazeta Esportiva, deu a seguinte manchete: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. Daí em diante o termo pegou.
DE MÃOS ABANANDO
Na época da intensa imigração no Brasil, no começo do século passado, os imigrantes tinham que ter suas próprias ferramentas. As “mãos abanando” eram um sinal de que aquele imigrante não estava disposto a trabalhar. A partir daí o termo passou a ser empregado para designar alguém que não traz nada consigo. Uma aplicação comum da expressão é quando alguém vai a uma festa de aniversário sem levar presente, por exemplo.
LÁGRIMAS DE CROCODILO
Quando dizemos que uma pessoa está chorando “lágrimas de crocodilo”, estamos querendo dizer que ela está fingindo, chorando de uma forma falsa. Tal expressão, utilizada no mundo inteiro, veio do fato de que o crocodilo, quando está devorando suas presas, faz uma pressão muito forte sobre o céu da boca e estimula suas glândulas lacrimais, dando a impressão de que o animal está chorando. Obviamente, o animal não “chora”, por isso surgiu a expressão popular.
DOURAR A PÍLULA
Antigamente, as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar o aspecto do remedinho amargo. A expressão significa melhorar a aparência de algo.
ESTAR COM A MACACA
A origem da expressão significava que a pessoa estava possuída pelo demo. Em algumas culturas, palavras tipo demônio, capeta ou diabo são sinais de má sorte. Para atenuá-los, esses vocábulos têm sido substituídos por cão e macaca. Atualmente, a expressão caracteriza a pessoa nervosa, estressada, irritada.
ERRO CRASSO
Licínio Crasso foi membro do primeiro triunvirato romano, juntamente com Pompeu e Júlio César. Era um político medíocre, ambicioso e interesseiro (lembra alguém entre os políticos brasileiros?…). Tomou a ofensiva na Síria contra os Partos, mas foi derrotado por um erro grosseiro de estratégia militar, que lhe custou a vida. Confiante na superioridade numérica de seu exército, e disposto a estraçalhar logo o inimigo, decidiu ganhar tempo cortando caminho por um vale estreito. Os sírios então fecharam as duas únicas saídas e o exército romano foi massacrado, incluindo ele próprio. Foi a decisão mais estúpida da história militar. Daí o significado da expressão.
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