Havia uma série muito legal na TV que foi descontinuada em 2011, depois de apenas 3 temporadas, estrelada por um ator de quem gosto muito, Tim Roth. Ele deu um show, por exemplo, em “Cães de Aluguel” e como o assustador general Thade na nova versão de “Planeta dos Macacos”, de 2001.
O que eu não sabia é que a série foi baseada nas pesquisas de Paul Ekman, notável psicólogo americano e expert em linguagem corporal e expressões faciais, e que estuda a linguagem não-verbal há 50 anos. Claro que imaginei que havia alguma base científica nos enredos, porém descobri que o personagem de Tim Roth, Cal Lightman, era baseado diretamente no especialista – com sotaque britânico e alguma liberdade criativa. Paul Ekman inclusive foi consultor de muitos episódios, e declarou, no entanto, o seguinte:
“A forma como o Lightman Group descobre as mentiras é baseada nas minhas investigações. No entanto, e uma vez que se trata de uma série de ficção e não de um documentário, Lightman não se preocupa tanto em interpretar comportamentos, como eu. Na série, as mentiras são descobertas de forma mais certeira e rápida do que na vida real.” Mas antes que se pense que era tudo uma grande mentira, Ekman garante: “A maioria das coisas que você vê na série é baseada em estudos científicos.”
Para quem não conhece a série, que me parece está passando atualmente no Netflix, explico resumidamente do que se trata: o personagem principal, Dr. Cal Lightman é auxiliado por sua parceira, Dra. Gillian Foster, e juntos detectam fraudes, observando a linguagem corporal e as micro expressões faciais, e usam esse talento para ajudar as autoridades, auxiliados por seu grupo de pesquisadores e psicólogos.
O legal é que certos detalhes que a gente vê nos episódios nos ajudam a ficar mais atentos a alguns comportamentos não-verbais de quem poderia estar mentindo. Eu grifo “poderia” porque, de acordo com Sérgio Senna, psicólogo e doutor em Psicologia pela UnB, as técnicas de detecção de mentiras baseadas na observação do comportamento não verbal são válidas e confiáveis desde que:
1. Não se considerem indicadores isolados e descontextualizados;
2. Sirvam como método auxiliar no contexto da observação do comportamento verbal e de outros indicadores temporais (quando ocorreu) e espaciais (onde ocorreu);
3. Sejam contextualizadas em relação ao ambiente em que o comportamento foi observado (por exemplo, encolher-se por causa do frio, não por causa do nervosismo);
4. Que se tomem os devidos cuidados éticos e legais antes de acusar alguém de estar mentindo.
Tendo esses cuidados em mente, a corrente que segue as conclusões de Paul Ekman sugere algumas dicas para avaliar se a pessoa estaria mentindo:
1. Usa termos de reforço como “para ser sincero” ou “pra falar a verdade”
As pessoas falam a verdade naturalmente. Não precisamos avisar que estamos sendo honestos ou dizer que falamos a verdade. Isso já é subentendido. Quando se tenta maquiar a mentira, costuma-se usar esse reforço.
2. Evita o contato visual ou pisca várias vezes.
Isso apareceu em diversos episódios. As pessoas vibram os olhos, piscando muitas vezes, ou não fixa o olhar. Ela pode estar escondendo algo, ou isolando um aspecto de uma lembrança.
3. Hostilidade
A pessoa é questionada sobre algo que a irrita demais e tem que disfarçar essa emoção.
4. Detalhes demais
Quem fala a verdade não precisa se ligar em detalhes. Quem esconde a verdade precisa dar atenção a muita coisa em sua história, como para dar veracidade ao discurso.
5. O corpo pode estar revelando a mentira
A pessoa está falando, aponta para um lado e olha para o outro. É que a mente trabalha tanto para racionalizar a mentira que o corpo fica sem sincronia.
6. Reconhecendo a mentira de forma inconsciente.
Essa parece ser a reação mais comum. A pessoa se afasta, movimento quase sempre acompanhado de um cruzar de braços, o que significa que não acredita no que está dizendo.
Evidentemente, essas dicas recolhi de diversas fontes diferentes que comentavam os estudos de Paul Ekman e que serviram de base a episódios da série. Mas os psicólogos e aqueles que estudam psicologia podem contribuir com muito mais informações.
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