A tumba descoberta na costa norte do Peru pelo prof. Régulo Franco Jordán acabou com algumas das teorias sobre a estrutura social do povo mochica e que eram aceitas pela maioria dos arqueólogos. O trabalho forense e os artefatos recuperados contam a história da Senhora do Cao cerca de 1500 anos depois de sua morte e nos oferecem mais informações sobre um povo surpreendente e enigmático.
O desenvolvimento tecnólogico alcançado pela cultura mochica continua a espantar o mundo. Eles construíram pirâmides e templos dotados de sistemas que suportavam os terremotos, transformaram o deserto onde viviam em um jardim, douravam o cobre, soldavam metais e desenhavam joias com um requinte extraordinário.
Eram um povo poderoso e que só temia a seus deuses, a quem ofereciam sacrifícios humanos para acalmar sua raiva e conseguir favores. Eram os verdadeiros faraós peruanos!
Foi nessa sociedade que reinou a Senhora do Cao.
Nem em seus mais belos sonhos o arqueólogo Régulo Franco Jordán poderia ter imaginado que as suas pacientes escavações na Huaca del Brujo iriam trazer para ele uma surpresa como aquela.
A manhã estava fria no complexo funerário. Embora a sua equipe retirasse com paciência a poeira dos muros de adobe quebrados do santuário mochica, que permaneceram por 1.700 anos enterrados sob uma pirâmide de areia e pedras, Régulo se encaminhou para o topo da estrutura. A queda de alguns tijolos de adobe deixou exposta uma pequena amostra de pintura. Jordán estava intrigado com as gravuras e decidiu continuar o trabalho que a força da gravidade tinha começado.
Meses mais tarde, um lindo pátio policromado decorado com pinturas de desenhos geométricos e representações das mais importantes divindades do panteão mochica viu a luz. Sobre seu piso repousavam cinco sepulturas. E na maior delas, um fardo funerário de cerca de cem quilos de peso. Exceto em raras ocasiões, como no enterro do Senhor de Sipan, que utilizou um caixão, o habitual na cultura mochica era encobrir os cadáveres com pálios funerários e alojar em telas os objetos rituais que iriam acompanhar o falecido em sua viagem até a casa da Ai-Apaec, seu deus supremo.

À medida que as telas do fardo eram removidas, os rostos dos arqueólogos iam passando da surpresa ao estupor absoluto: dentro havia a múmia de uma mulher, e ela trazia todos os atributos com os quais os mochicas enterravam seus governantes. Nunca antes se havia obtido a menor indicação de que uma mulher tinha atingido o ápice nessa antiga sociedade pré-colombiana. Na cultura mochica, que se espalhou pela costa norte do Peru entre os séculos I a.C. e o VII da nossa era, os guerreiros ostentavam o mais alto nível da sociedade, logo abaixo do governante, que também era a mais alta dignidade religiosa. Os arqueólogos já sabiam, pelas sepulturas encontradas anteriormente, que algumas mulheres mochicas tinham atingido importantes posições religiosas. Mas que uma mulher mochica tinha atingido o poder máximo era algo que não estava dentro das suas expectativas…
(continua)
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