O TRECO CERTO

Por Clene Salles

As chamadas Figuras de Linguagem são recursos estilísticos que podem ser usados para dar maior ênfase aos seus escritos. Os textos ficam mais bonitos, mais agradáveis, divertidos ou expressivos (e provocam mais engajamento), através da utilização de palavras específicas e dos seus significados.

São vários desses recursos que existem no sistema de linguagem, e hoje vou falar aqui sobre seis dos mais conhecidos.

1.   Metáfora

A metáfora é uma comparação de palavras com significados diferentes e os conectivos de comparação (“como”, “tal qual”) ficam subentendidos.

·    Cauã é um gato. (subentende-se beleza felina, afinal ele é um homem bonito)

·    Carlos é um anjo. (subentende-se a bondade dos anjos, pois a pessoa quer dizer que ele é compreensivo, está sempre pronto para ajudar)

·    Dona Madalena é um doce de pessoa. (subentende-se a doçura, ou seja, ela é amável)

·    Júlio é uma bússola para quem quer desenvolver histórias em quadrinhos. (subentende-se a bússola como direção, localização adequada, remetendo que ele é uma ajuda certeira para quem quer desenvolver essa arte (HQ))

·    Laura é fera em literatura. (subentende-se a que ela conhece muito, é inteligente, têm experiência de sobra)

·    A cidade de São Paulo é uma selva de pedra. (subentende-se que essa metrópole é complexa, com ampla diversidade, repleta de prédios altos, caótica e onde a disputa para a sobrevivência é acirrada)

2.    Comparação

A comparação é uma figura de linguagem usada para relacionar dois ou mais elementos com base em suas semelhanças, com o propósito de nivelar aspectos entre si. Essa relação é feita de maneira explícita no texto, usando palavras que mostram a comparação feita.

Exemplos:

·         O modo de pensar e agir da Sofia é um verdadeiro quebra-cabeças. (aqui temos metáfora e comparação, indicando que Sofia é uma pessoa cheia de complexidades, difícil de entender e que para lidar com ela é preciso paciência)  

·         Andrade é como uma rocha nas dificuldades. (metáfora e comparação, indicando que ele tem resistência nas adversidades da vida)

·         A garotinha Neni, é um verdadeiro pote de ouro no final arco-íris na vida de quem acompanha. (comparação metafórica indicando que ela costuma levar boa sorte e fortuna para seus amigos(as))

Mais exemplos de comparação:

·         Sérgio era áspero como uma lixa, Alice fria como um gelo, Augusta ferina como uma vespa, Silas oportunista como uma ratazana – todos amontoados numa desunida família.

·         Em sua explicação, ela foi clara como o dia, só não entendeu quem não quis.

·         Aquele homem era como um camaleão, nunca sabíamos qual era a sua verdadeira opinião.

·         Saly não era de se entregar, mas quando ela realmente gosta de alguém, é como uma cachoeira em pleno verão.

·         Sua vida era como um livro aberto.

3.    Metonímia

A metonímia é uma figura de linguagem que consiste na utilização de uma palavra no lugar de outra, com a qual haja uma relação de sentido, produto, marca.

·         Li Machado de Assis. (obra literária pelo autor)

·         Minha mãe adora tomar Nescau com leite. (marca pelo produto)

·         Gosto de Mozart. (o autor que, de tão famoso, acaba sendo referência de música clássica)

·         Bebeu sua Chandon até o fim. (marca pelo produto, aliás pode ser usada como metáfora de alguém que se esbaldou numa festa, num momento de festividade e felicidade, que desfrutou ao máximo)

4.    Sinestesia

A sinestesia é o recurso de linguagem onde se utilizam palavras e expressões associadas às diferentes sensações do corpo humano (visão, audição, olfato, paladar e tato) para gerar um efeito no texto. 

·         cor berrante (visão + audição)

·         perfume doce (olfato + paladar)

·         olhar penetrante (visão + tato)

·         risada gostosa (audição + paladar)

·         cheiro azedo (olfato + paladar)

5.    Ironia

A ironia é utilizada para dizer algo por meio de expressões que são o oposto do que se quis dizer. Seu uso é bastante comum, e esse jogo de sentidos que se ligam pela inversão gera, muitas vezes, um tom de comicidade ou de deboche.

·        Puxa, que ótimo que o elevador quebrou! Agora só teremos que subir 12 lances de escada…

·        Eu não esperava você tão cedo (quando alguém chega muito depois do combinado)

·         Étão inteligente quenão acerta nada.

·         Ele é ateu, graças a Deus!

·         Colchão tão macio, que eu me senti descansando numa sacada de concreto.

·         É bem bacana mandar lavar o carro e chover depois – isso é horrivelmente complementar.

·         Superbacana receber visita no hospital (pessoas importantes, tipo o chefe da empresa), quando se está com vestimenta hospitalar e dá uma vontade irresistível de ir ao banheiro.

6.    Elipse

A elipse é uma figura de linguagem usada para omitir termos que podem ser facilmente identificados, como se estivéssemos economizando palavras:

“Estava falando sobre a minha mãe e não sobre a sua”.

Nessa frase, a palavra mãe foi omitida: “Estava falando sobre a minha mãe e não sobre a sua mãe”.

Exemplos:

·         Ela gosta de futebol, ele livros. (Ela gosta de futebol, ele gosta de livros)

·         Ele tinha o caderno; ela a caneta. (Ele tinha o caderno e ela estava com a caneta, aliás, além de poético, também pode ser usado como metáfora: ela tinha o poder de decisão; ela carregava consigo o poder de escrever a história; ela ditaria as possíveis regras; etc.)

·         A cidade parecia mais alegre; as pessoas, mais felizes. (A cidade parecia mais alegre; as pessoas pareciam mais felizes.)

·         Perguntei quando viria. Ele disse que não sabia. (Ele disse que não sabia quando viria.)

·         Passear? Cinema? Só mês que vem. (Está querendo passear? Ir ao cinema? Agora não dá, só no mês que vem)

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