Faz algum tempo, comentei em um post como era viajar de avião na primeira classe nos anos 1960, época considerada a “idade do ouro da aviação” (aqui). A rotina e as acomodações de então em nada lembram o que acontece hoje em dia.

Por exemplo, no caso da Varig, a maior e mais famosa companhia aérea brasileira, o passageiro tinha tratamento VIP. Afinal, voar era muito chique… E muito caro!

Mesmo que fosse verão, os passageiros usavam os melhores ternos e as mulheres, os melhores vestidos, com luvas e chapéu. A bordo, assim que chegavam, eram servidos uísque escocês ou champanhe para todos os passageiros – mesmo os da classe econômica (que, pelos padrões atuais em termos de preço, equivale à classe executiva).  As aeromoças (assim eram chamadas as comissárias de bordo), vestindo uniformes desenhados por famosos estilistas, acendiam as piteiras dos passageiros.

Todo mundo (que podia...) viajava pela Varig. Na foto, o então presidente Juscelino Kubistcheck indo para Brasília.
Todo mundo (que podia…) viajava pela Varig. Na foto, o então presidente Juscelino Kubitschek indo para Brasília.

Os assentos, largos, tinham pelo menos um metro de distância do assento da frente. E na hora de comer, a primeira classe tinha caviar e cascatas de camarões. Na econômica, duas opções de prato quente, além da entrada, queijos, sobremesa, café, licores e vinhos. Todos os passageiros recebiam toalhas quentes para a higiene, a refeição era servida com toalha de mesa e guardanapos de linho, talheres de prata e copos de cristal…

Sim, tudo era muito diferente! Não existiam sites de vendas de passagens aéreas, as pessoas procuravam os agentes de viagens, uma profissão super nova então, ou iam até a loja da empresa e compravam sua passagem. E existia uma passagem impressa em papel – nada dos e-tickets de hoje – , parecida com um talão de cheques, com folhas que iam sendo destacadas à medida que o passageiro ia passando pelos poucos procedimentos de embarque.

Praticamente nenhum aeroporto tinha os fingers atuais, e o embarque e desembarque era feito na pista, mesmo, com chuva ou com sol…

E as inúmeras escalas de reabastecimento, então? No Brasil, a maioria dos voos internacionais saía do Rio, e se você reclama das escalas e da duração dos voos atuais, saiba que uma viagem hoje, Rio-Beirute, com uma escala em Roma, leva 16 horas. A mesma rota, voando num DC-8 da época, fazia escala no Recife, depois cruzava o Atlântico e fazia escala na Libéria (África), seguia para a escala em Roma, e finalmente, Beirute. Uma viagem de 23 horas!

Como já mencionado, as poltronas eram largas, nada desse aperto de hoje. Pensando bem, só assim para suportar uma viagem de 23 horas… Para que se tenha uma ideia, o Boeing 707 – com seus 46 metros de comprimento – levava uma média de 150 pessoas. Hoje, os Boeing 737-800 (como da Gol) – com 39 metros de comprimento – levam até 183 pessoas!

Algumas aeronaves tinham até um bar e sala de estar, coisa que a Emirates resgatou em seus Airbus A380. Nessa “sala de estar”, as pessoas podiam fumar de tudo, cachimbo, charuto, cigarros…

É que não havia o tipo de entretenimento que temos atualmente, como filmes e música. Isso só começou a aparecer nos voos no final da década de 1970. O máximo de entretenimento que os passageiros de então podiam ter eram jornais e revistas, naqueles aviões que não tinham as salas de estar. Nesses, você poderia ainda jogar um carteado…

O grande problema era que, como você podia fumar a bordo, e a bebida era servida à vontade, havia muitos acidentes e brigas. Por exemplo, um avião da Varig, que estava iniciando o pouso, caiu próximo a Paris porque um passageiro jogou o charuto aceso na lixeira do banheiro, e a fumaça impediu que os pilotos conseguissem enxergar qualquer coisa. Quanto às bebidas, acontecia de alguns passageiros passarem dos limites – tropeçar, cair, assediar as aeromoças, cantar alto e vomitar nos corredores.

Como a estrutura aeroportuária era muito deficiente, as empresas investiam no serviço de bordo como forma de compensação. A Varig, por exemplo, chegou a ter cozinhas próprias em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Nova York e Lisboa.

Lagosta e caviar servidos na primeira classe da Varig.
Lagosta e caviar servidos na primeira classe da Varig.
Olha que chique o menu da Varig!
Olha que chique o menu da Varig!

Mesmo na Ponte Aérea SP-Rio, os voos contavam com canapés de entrada, refeição quente e diversas opções de bebida, como uísque, vinho e cerveja. O carrinho, que hoje inexiste em alguns voos, passava pelo menos duas vezes pelos corredores para os clientes se servirem.

Os comissários e comissárias eram treinados pelas próprias empresas e o processo de seleção era rigoroso. Peso proporcional à altura (“bem” proporcional, no caso das mulheres, mostra anúncio de recrutamento da Varig dos anos 60) e dentição perfeita eram alguns dos requisitos. Era preciso, ainda, participar de cursos que ensinavam a história das empresas e habilidades como a realização de partos a bordo.

Hoje, os tempos são de cumulus nimbus. Sai caviar, entra barrinha de cereal… E não vai demorar muito, as empresas venderão passagens para viajarmos de pé, a pão e água. Sem chibatadas, por favor!

 

 

 

 

 

 

 

 

Fontes: 

Fast Company

Vounajanela.com

Uma resposta para “Voar era muito chique antigamente!”.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Tendência