Estamos em 1966.

Um dos carros mais vendidos no Brasil era a Vemaguet. Sérgio Mendes estoura nos Estados Unidos, e depois na Europa. A participação brasileira na Copa do Mundo de 1966 foi uma das piores da história. O Brasil foi eliminado logo na primeira fase com vitória de 2×0 para a Bulgária, e derrotas de 3×1 para Hungria e 3×1 para Portugal – com Pelé, Garrincha e cia. A Guerra do Vietnã estava numa escalada sem fim, e os EUA já tinham enviado mais de meio milhão de homens. E um famoso grupo de rock, os Beatles, faziam seu último show no estádio Candlestick Park, em São Francisco – EUA, e lançavam seu álbum “Revolver”.

Na TV, o grande sucesso de audiência no Brasil eram os festivais de música, e os programas musicais em geral. Normalmente você via artistas como Elis Regina, Jair Rodrigues, Roberto Carlos, Chico Buarque… Outros líderes de audiência eram os programas de humor, com Renato Corte Real ou Chico Anysio. Mas os seriados também conquistavam enorme audiência – aqui e nos Estados Unidos: Bonanza, O Fugitivo, Quinta Dimensão… Batman…

Foi um período de efervescência em todos os segmentos da sociedade e o seriado do Batman, com sua atmosfera “camp”, atraiu especialmente os jovens. Camp se referia a uma atitude artificial, exagerada, era uma estética especial que ironizava ou ridicularizava tudo o que fosse dominante. E foi exatamente nessa brecha que um grupo de executivos da rede americana NBC criou um projeto: uma banda que pudesse rivalizar com os Beatles em popularidade, na venda de discos e de produtos licenciados, mas contando com um grande trunfo, uma série de TV.

O tema do seriado.

“Os Monkees” estreou em 1966 apresentando a vida de um grupo de rock desempregado em busca de uma oportunidade para mostrar sua música. Adotando a linguagem “psicodélica”, a série apresentava várias situações nas quais Davy, Mike, Mickey e Peter se envolviam. Os membros da banda foram escolhidos a dedo, entre quase 500 candidatos: Mike Nesmith, músico  e excelente compositor; Mickey Dolenz, ator/cantor que já estrelara uma série de TV quando criança (“O Menino do Circo”); Peter Tork, o homem dos mil instrumentos, e Davy Jones, com experiência em teatro.

Da esquerda para a direita, Pete, Mike, Mickey e Davy.

Aliando a série a turnês, à execução de músicas no rádio e ao lançamento de álbuns, a produção de “Os Monkees” criou uma estrutura multimídia que é utilizada ainda nos dias de hoje com “Glee”, por exemplo. Foram duas temporadas com 58 episódios, que receberam vários prêmios e conquistaram vários fãs, os próprios Beatles entre eles. John Lennon disse: “I think you’re the greatest comic talents since the Marx Brothers. I’ve never missed one of your programs.” (Eu acho que vocês são os maiores talentos cômicos desde os Irmãos Marx. Eu nunca perdi um de seus programas). Outra demonstração da popularidade gigantesca que eles conseguiram foi que um cantor britânico que despontava com algum sucesso mudou seu nome artístico de Davie Jones para David Bowie – justamente para não haver confusão com o astro da banda.

Abaixo, um trecho de um dos episódios, que intercalavam ação com uma música:

O que foi feito deles, depois que o seriado acabou e a banda se desintegrou?

Mike Nesmith – Depois que a série foi cancelada, Mike formou a “The First National Band”, que durou apenas um ano. Tentou investir no negócio de gravadoras, montando a Countryside, em parceria com a Elektra Records, que também não foi adiante. Sua vida mudaria quando sua mãe, uma engenheira química que inventou o liquid paper, vendeu os direitos do produto para a Gillette Corporation em 1979. Falecendo em 1980, ela deixou sua fortuna para Mike, que utilizou o dinheiro para criar a Pacific Arts Pictures, com a qual passou a produzir e distribuir filmes. Atualmente com 68 anos, Mike mantém a empresa Pacific Corporation, que expandiu para as áreas de produção de vídeo game, home vídeo, livros áudio e programas para a Internet, como oVideorach 3D. Além de homem de negócios, músico e compositor, Mike também é autor de livros.

Mickey Dolenz – Ele já fazia parte do mundo do show business quando estrelou a série “Os Monkees”. Filho do ator George Dolenz, da série “O Conde de Monte Cristo”, Mickey iniciou carreira aos nove anos de idade quando estrelou o seriado “O Menino do Circo”. O ator retornou à carreira artística em 1964, com participações especiais. Nessa mesma época formou a banda Missing Links, utilizando o nome de Mike Swain. Foi nesse período que ele foi contratado para integrar o elenco de “Os Monkees”, passando a usar seu próprio nome, Mickey Dolenz.

Com o fim da série e do grupo, dividiu seu tempo entre duas carreiras, a de músico e a de diretor de filmes, episódios de séries, vídeo clipes e peças de teatro, atuando nos EUA e na Inglaterra. Atualmente com 65 anos, Mickey se mantém em atividade também como ator e cantor. Seu mais recente trabalho foi a montagem do musical “Hairspray“, que iniciou em Londres e chegou à Broadway.

Davy Jones –  O ator inglês iniciou sua carreira fazendo participações em programas do rádio e da TV. Logo depois passou a atuar em musicais, chegando a interpretar Artful Dodger na montagem de “Oliver!”. Foi com esse musical que ele chegou à Broadway em 1963, dando ao ator e cantor de 17 anos de idade uma indicação ao prêmio Tony. Divulgando o musical, Davy  e o elenco se apresentaram no programa “The Ed Sullivan Show”, no dia 9 de fevereiro de 1964, pouco antes do  grupo The Beatles fazer sua histórica apresentação na TV americana.

O sucesso do musical levou Davy a Los Angeles, onde assinou um contrato com a Columbia Pictures para lançar seus discos solo. Pelo contrato, o estúdio teria que lhe arranjar um programa para estrelar na TV. Assim, após algumas participações especiais, Davy entrou para o elenco de “Os Monkees”. Sua baixa estatura e sua carinha de adolescente o transformaram no ídolo das jovens da época. Depois do fim do grupo, ele continuou a gravar e a se apresentar em turnês.

Desde pequeno sonhava em ser jóquei, profissão que nunca seguiu, mas ao longo dos anos montou seu próprio haras, onde criava e treinava cavalos que lhe renderam diversos prêmios. Faleceu em fevereiro de 2012.

Peter Tork –  Filho de militar, ele foi morar na Alemanha quando tinha cinco anos de idade. Na época, seu pai era um dos responsáveis por supervisionar a retirada das tropas americanas do território alemão. Sonhando em se tornar professor de inglês, Peter trocou os livros pela música. Aprendeu a tocar banjo, violão e trompa, passando a integrar a orquestra da Universidade de Connecticut, quando ainda estava na faculdade. Nessa mesma época, estreou como ator em peças universitárias.

Mudou-se para Nova Iorque para viver com a avó. Lá, trabalhou como mensageiro de uma agência teatral. Logo se mudou para o Greenwish Village, onde passou a se apresentar como músico em bares, trabalhando como lavador de pratos em restaurantes durante o dia. Em 1965 mudou-se para Los Angeles onde, pouco depois, fez testes para a série “Os Monkees”. Comparado pelos produtores ao comediante Harpo Marx, Peter foi contratado para ser o ‘pateta’ do grupo.

Com o fim da série, Peter seguiu uma carreira solo como cantor e guitarrista. Percorreu várias cidades dos EUA e chegou a ser preso por vadiagem e porte de drogas. Em 2009, Tork foi diagnosticado com uma forma rara de câncer, encontrado nas glândulas salivares. No caso de Tork, o tumor foi descoberto na região baixa da língua. Submetido a uma cirurgia e a um tratamento de quimioterapia, Tork se recuperou, voltando a se apresentar em shows em 2010. Atualmente, o ator e músico está com 68 anos.

 

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